Depois de “Mas por que um intercâmbio na Croácia?”, a frase que ficou em segundo lugar entre as mais repetidas quando eu contava do meu plano de viagem pelo verão europeu foi “Mas por que você quer ir pra Albânia?”. Se fotos não forem suficientes, juntei bastante informação útil e contos de viagem pra te convencer a incluir a costa da Albânia no seu próximo roteiro de verão europeu. Bora lá!
Por que eu achei a Albânia tão interessante?
Primeiro vamos dar uma olhadinha juntos no mapa do país.
Primeira constatação que muita gente nem sabia: a Albânia fica na Europa, entre a Grécia (que foi meu primeiro destino nessa viagem) e Montenegro, na borda ocidental da península balcânica. E sua costa é banhada pelo Mar Jônico – sim, aquele que também dá o ar da graça em algumas ilhas gregas, como Corfu e Zakynthos – e pelo Mar Adriático – aquele bonitão das fotos de praias croatas. E são necessários apenas cerca de 400 km para atravessar o país de uma ponta à outra. “Opa, peraí. Acho que cabe uma paradinha aqui, hein!”.
Bastou uma pesquisa rápida no Google pra eu descobrir que ali ficava escondido um pedaço do país conhecido como a Riviera Albanesa. Só que quando eu tentei buscar mais informações de lá, não achei quase nada em português. Até 1992 a Albânia era uma nação comunista com estreitas relações com a China e absolutamente fechada para turismo. É um destino novo, inexplorado e totalmente diferente. E com praias aparentemente paradisíacas. Pronto! A blogueira aqui não sossegou enquanto não deu um jeito de encaixar uma rapidinha albanesa nesse tour pelo verão europeu.
Antes de seguir a conversa, quero deixar despretensiosamente aqui uma foto. Não é Grécia. Não é Croácia. Não é Noronha. Não é Caribe. Não é Riviera Francesa. É Riviera Albanesa!
Pronto. Agora podemos seguir viagem.
Meu roteiro na Albânia
Meu tempo era muito curto e escolhi Sarande como base (para curtir a Riviera Albanesa você também pode ficar em Vlore ou Himara). Sarande fica bem ao sul da Albânia, próxima da fronteira com a Grécia e de frente para Corfu, uma ilha grega. De Sarande fui para Ksamil, a praia do mar daquela foto lá em cima; para Lukove, uma praia um pouco maior, mas com um mar menos impactante; para uma praia ao lado de Lukove, pequena e bastante reservada acessível apenas com carro ou moto por um terreno bem inclinado e sem asfalto; para Blue Eye Spring, um parque com incríveis piscinas naturais; e para Gjirokastra, cidade patrimônio mundial da Unesco.
Recomendo muitíssimo esse roteiro! Como lá é tudo muito perto, consegui visitar tudo em um dia, mas o mínimo de dois dias seria o ideal. Primeiro vou falar como foi meu roteiro e depois o que eu modificaria nele. Eu comecei por Ksamil, a 17km de Sarande, que estava lotada em sua pequena faixa de areia. Como logo em frente estão três pequenas ilhas acessíveis a nado (ou, se você for alto, também dá pra ir andando devagarzinho com água na altura do pescoço), o ideal é você sair da muvuca em terra firme e ir pegar um sol numa dessas ilhotas. O mar é incrível! Sério, isso foi o que mais me impressionou na Albânia.
De lá seguimos para Lukove Beach. Só conseguimos chegar porque estávamos de carro, pois tem uma descida bem inclinada e de terra até lá (com direito a passar por alguns animais no meio do caminho, tipo esses bodes ou touros das fotos abaixo). É uma praia bonita, mas não acho imperdível (do lado esquerdo da praia fica Lukove Cave e tem uma vista bonita, recomendo dar uma caminhada pelas pedras, não exige grande esforço). Curti mais que, quando saí de Lukove, encontramos um caminho para outra praia beeeem menor e mais vazia, do jeito que eu gosto. Ambas ficam uma pertinho da outra, mas precisa de carro pra se deslocar entre elas. Me lembro que no caminho tínhamos que pegar para a esquerda ao invés da direita para achar essa prainha (era uma pirambeira sem fim e essas devem ser a únicas praias acessíveis por esse caminho). Mas não espere uma mega estrutura! Aqui a palavra de ordem é simplicidade e natureza. Mas fique tranquilo que se bater uma fominha ou sede, tem restaurante nessas duas praias. Amei, amei, amei essa prainha selvagem albanesa que não me lembro o nome (das vantagens de se ter um carro e poder encontrar preciosidades assim pelo caminho!). Foi um contraste após Mykonos, que é super badalada e ostensiva.
No fim da tarde, mas ainda com bastante tempo antes de anoitecer devido ao horário de verão europeu, seguimos para Blue Eye Springs, a 22km de Sarande. Esse é outro lugar que não pode faltar no seu roteiro! A água da piscina natural de lá é incrivelmente linda! Mas se prepare, ela é tão gelada, mas tão gelada, que na mesma hora em que mergulhei minha nuca ficou dormente e a GoPro da minha amiga chegou a parar de funcionar e ficou toda embaçada. É congelante! Mas vale a pena. Vale tanto que entrei mais de uma vez. Lá em Blue Eye Springs também é legal se você quiser parar pra tomar uma cervejinha ou comer algo, pois eles têm uma parte do restaurante que fica bem à beira do rio Bistrica e que é linda! Esse foi o único lugar que pagamos para entrar, e custou 150 lekes por pessoa + 100 lekes para estacionar o carro (140 lekes = mais ou menos 1 euro).
À noite fomos jantar em Gjirokastra. A cidade é tão, mas tão fofa que eu queria muito ter ido lá de dia! E tem diversos restaurantes charmosos! Não vou indicar o que eu fui porque foi uma decepção. Além da comida não ser nada demais, pedimos um prato que o garçom não avisou que havia acabado, ele simplesmente achou por bem trazer um prato diferente e deixar por isso mesmo. Mas muitos outros lugares pareciam ser ótimos (infelizmente não tenho fotos de lá)!
O que eu mudaria nesse roteiro: eu guardaria um dia apenas para Ksamil, Lukove (na verdade, para a prainha perto de Lukove) e Blue Eye Springs e terminaria minha noite em Sarande mesmo (na orla vi vários restaurantes e bares que pareciam ficar bem animados). E no segundo dia eu incluiria Butrint de manhã, a 18km de Saranda e com ruínas enormes e onde há uma acrópole e um castelo – é tipo um pedacinho da Grécia dentro da Albânia e a entrada custa 700 lekes. E de lá, à tarde, eu iria para Gjirokastra, com tempo para conhecer a cidade de dia e depois escolher um dos restaurantes charmosos do centrinho histórico para jantar.
Além dessas cidades de praia, passei rapidamente por Tirana, a capital da Albânia, e Shkodra. Tirana eu não achei nada demais, é uma capital como qualquer outra, sem grandes atrativos. Já Shkodra eu achei fofa, vale uma parada nos cafés de lá se estiver atravessando a Albânia de carro – essa foi a última cidade que visitamos antes de chegar na fronteira com Montenegro.
Mas como é a estrutura para turismo na Albânia?
Muito precária. A Albânia é um dos países mais pobres da Europa. Claro que há as cidades mais turísticas, com hotéis e algumas poucas pessoas que falam inglês (a língua oficial de lá é o albanês). Mas no geral não espere por muitas informações e se agarre a qualquer dica que conseguir sobre o país. Meu grande companheiro lá foi o guia Lonely Planet, que me quebrou um super galho (comprei o Mediterranean Europe impresso, mas também é possível comprar apenas o capítulo em PDF da Albânia nesse link aqui, é mais prático e barato se você precisa de informações apenas desse destino).
Eu havia lido que as estradas na Albânia eram muito ruins. Sinceramente eu esperava algo pior (no estilo do interiorzão do Brasil, sabe?). Aluguei carro em Sarande e circulei bem pelas cidades próximas (custou 35 euros a diária de um carro simples, aluguei com a Finikas Lines. Eles foram até nosso hotel levar o carro e, como íamos viajar às 5 da manhã e a agência ainda estaria fechada, deixaram que entregássemos o carro e a chave na recepção do hotel – sem ninguém para conferir se o carro estaria Ok ou a quantidade de gasolina). O perrengue maior mesmo foi para chegar a Lukove, numa descida bem inclinada e sem asfalto. De resto, estradas normais, sem buracos (mas com bastante lixo) e placas – e alguns animais pelo caminho 😀
É caro ir pra Albânia?
Não! Definitivamente não. Depois de sair da Grécia em pleno verão com alguns bares de Mykonos me cobrando 8 euros por uma cerveja, foi um alívio chegar na Albânia e poder sair para jantar sem me preocupar em deixar um rim como forma de pagamento (apenas o aluguel de carro que não achei tão baratinho assim).
Alguns exemplos de preços:
– diária de aluguel de um carro simples: 35 euros
– diária num hotel legal para 2 pessoas em Sarande: 34 dólares (pesquisei através do Booking.com)
– cerveja num restaurante: 1,5 euros
– prato num restaurante: cerca de 4 euros
A moeda oficial na Albânia é o leke (140 lekes = mais ou menos 1 euro; conversão de outubro de 2015). Mas sempre que quiser saber o preço de alguma coisa, pergunte se está em “new leke”, que é uma conversão nova e mais barata para a gente. Em alguns lugares eles aproveitam que o turista não sabe que houve essa mudança e dão o preço em leke antigo. Se você fizer as contas e achar que estão te cobrando caro por alguma coisa, confirme perguntando “New leke”. Aliás, confirme de qualquer maneira. Como lá tudo é mais barato, você pode nem se dar conta de que poderia estar pagando menos ainda!
Eu não troquei dinheiro lá, eu saquei num ATM o valor direto em lekes.
É fácil ir pra Albânia?
A verdade é que encaixar essa rapidinha albanesa no roteiro não foi nada fácil. As empresas de ônibus do país simplesmente não oferecem informações online, nem de preço, nem de horário de ônibus, nem de destinos. E, lendo alguns blogs gringos, descobri que não há estações de ônibus certinhas nas cidades e que o jeito é chegar lá, descobrir onde é o ponto e esperar uma van / ônibus / micro-ônibus passar. Péssima estratégia pra quem estava com o tempo curto pra atravessar o país como eu.
Foi pesquisando muito que descobri algumas agências em Atenas (meu último destino antes de ir pra Albânia) que vendiam passagens pra lá. Eu escolhi a Ruci Tours (o site está quase todo em grego, apesar de mostrar a opção de inglês, mas foi a agência que um albanês que trabalha no aeroporto de Atenas me indicou. Depois vi que ela é mesmo uma das mais utilizadas para atravessar os dois países) e fui até a agência pessoalmente pra comprar a minha passagem – você também pode tentar informações pelo e-mail info@rucitours.com. A agência fica exatamente em frente à estação de metrô Larissa de Atenas, então não foi um grande transtorno ir até lá – eu preferi ir pessoalmente para me esquivar de qualquer falha de comunicação. Aliás, minhas viagens de ônibus pela Albânia foram as mais aventureiras da vida! Se prepare para zero estrutura e um serviço bem mais ou menos – e ninguém falando inglês.
Mas, acredite, você pode sobreviver! E com certeza vai voltar cheio de história pra contar. Como o ônibus que peguei e que desviou do caminho e parou por uma hora em frente a um lugar qualquer que ninguém sabia onde era para buscar uma porta (!!!). Não bastando isso, eles foram o resto da viagem carregando a porta em pé no corredor do ônibus. Sim, gente, uma porta de vidro. Eu tentei fotografar a cena com meu celular porque parecia surreal demais para ser verdade. Olha só que foto bem tirada:
Mas, em compensação, quando chegamos a Tirana não tínhamos moedas em leke para pegar um ônibus municipal e o motorista tirou dinheiro do próprio bolso dele para nos dar pra podermos pegar um ônibus até onde precisávamos ir – tudo isso para evitar que taxistas se aproveitassem do fato de sermos turistas para nos cobrarem uma fortuna pela corrida. Tem muito maluco por lá (onde é que não tem), mas também conheci muita gente boa que se esforçou pra nos ajudar durante nossa viagem no país.
Como chegar na Albânia e como andar de ônibus lá?
As maneiras mais fáceis de visitar a Albânia são:
– de ferry a partir de Corfu, ilha grega de frente para Saranda. O percurso leva uns 45 minutos.
– de avião chegando por Tirana, e de lá alugando um carro para circular no país (não encontrei opções de alugar carro em outro país e devolver na Albânia, e às vezes a empresa estrangeira não permitia a entrada do carro no país, mesmo que fosse devolvido no mesmo local de retirada depois)
– de busão na garra e na coragem – essa foi minha opção num mochilão super econômico e aventureiro. Segue passo-a-passo de como sair de Atenas, atravessar a Albânia e chegar a Budva, litoral de Montenegro de ônibus (essa é a maneira mais barata de todas!):
1) ônibus de Atenas para Sarande – a viagem durou cerca de 9 horas e custou 10 euros por pessoa (atenção: Sarande não era um dos destinos oferecidos pela Ruci Tours, mas estava no caminho que o ônibus faria. Então conversei e negociei para descer em Sarande. Para isso nós compramos a passagem até o destino seguinte a Sarande e ficamos de olho nas placas. Quando chegamos a Sarande, o motorista parou o ônibus e descemos no meio da rua mesmo. Dali pegamos um taxi até algum hotel onde alguém falasse inglês)
2) ônibus de Sarande para Tirana – a viagem durou cerca de 6 horas e custou 10 euros
3) ônibus de Tirana para Shkodra (última cidade da Albânia) – trajeto levou menos de 2 horas e custou 300 lekes (os ônibus para Shkodra, bem como os que vão para Durres e outras cidades, saem da praça Sheshi Karl Topia em Tirana – tem vários ônibus parados ali na rua, você chega e pergunta onde está o que vai pro seu destino, compra a passagem na hora e espera a próxima saída. O meu para Shkodra saiu em 5 minutos)
4) ônibus de Shkodra para Ulcinj (primeira cidade de Montenegro) – trajeto levou 1h30 e custou 700 lekes (do ponto onde nosso ônibus vindo de Tirana nos deixou, só tivemos que atravessar a rua para pegar o que ia para Ulcijn. Ali tem um restaurante de hotel com Wifi se você precisar fazer hora ou comer alguma coisa, mas andando uns 5 minutos você chega numa rua fofa com diversos bares e cafeterias)
5) Ulcinj para Budva (meu destino final em Montenegro) – trajeto levou 1h40 e custou 7 euros (em Ulcinj comemos no restaurante Merlin, dentro da rodoviária)
Alguns ônibus eram Ok, mas os últimos eram bem precários (em especial o que atravessou a fronteira). Também há hotéis (tente o Montenegro Hostel) que fazem o trajeto de van direto de Tirana para Budva por cerca de 35 euros (sai mais ou menos o dobro do que pagamos no total de nossas baldeações).
A Albânia é segura?
Ouvi algumas pessoas dizerem que não. Mas a única coisa que posso falar é da minha própria experiência: eu achei sim. Não tive problema nenhum, e estava viajando apenas com mais uma amiga. A única coisa que eu reparei é que os homens ficam olhando muito – lembre-se que até poucos anos atrás o país era totalmente fechado, então ver turistas mulheres nas ruas é algo relativamente novo para eles. Mas eles apenas olharam. Não fizeram absolutamente nada, não mexeram conosco, não tentaram se aproximar, nada. Me senti bastante segura para fazer tudo lá, ir às praias, dirigir nas estradas, pegar ônibus infinitos atravessando o país.
E conheci muitas pessoas gentis que nos ajudaram pelo caminho. Mesmo que não falassem inglês, eles davam um jeito através de mímicas ou arranhando um italiano. Quero muito voltar na Albânia para conhecer outros cantinhos que ficaram de fora desse roteiro, e voltaria sozinha numa boa.
Por fim…
Aposto na Albânia como um destino que vai bombar em poucos anos (em 2011 a Albânia já estava entre os top 10 destinos a serem visitados segundo o Lonely Planet – junto com o Brasil). Agora o país ainda não está preparado para receber turismo de massa e precisa se desenvolver mais para ser atrativo para quem busca viagens mais simples de organizar e menos aventureiras. Tem gente que curte viajar assim (eu, eu, eu!), caindo de paraquedas em lugares onde você precisa desvendar o que fazer e quebrando a cabeça pra encontrar formas de se locomover numa cidade. Mas muita gente só quer a tranquilidade de chegar num local e ter tudo à mão sem stress.
Masssss… se eu pudesse ganhar dinheiro vendendo conselho, seria: vá agora pra Albânia, enquanto ela ainda tem esse jeitinho selvagem e pouco explorado, como se te fizesse voltar no tempo. Apesar de pouca infraestrutura, as praias são lindas! Há cidades charmosas. O país foi parte do Império Otomano por mais de 400 anos. Tem ruínas. E uma acrópole. E castelos. Numa mistura de colonização grega, italiana e turca. E é muito barato. Depois ela pode até se tornar um super destino descolado, mas certamente terá perdido um pouco desse lado peculiar, autêntico e curioso. Além, claro, de ficar muito mais cara 😉
Sugiro também a leitura desse texto de um jornalista que visitou a Riviera Albanesa: http://viagem.uol.com.br/noticias/2011/10/22/na-riviera-albanesa-um-paraiso-frugal.htm
Chegou até aqui? As dicas que compartilhei foram úteis para você? Esse conteúdo foi produzido sem patrocínios, com investimento do meu bolso, e trago gratuitamente para ajudar na sua viagem. Se você curtiu o meu trabalho e gostaria de colaborar para que eu possa continuar produzindo artigos completos e úteis como esse, deixo minha chave pix para você ficar à vontade em contribuir voluntariamente com o valor que quiser. Apoie produtores independentes! Obrigada pelo carinho de sempre.
Minha chave pix: contato@fuigosteicontei.com.br
Para pesquisar hotéis em Sarande, clique aqui.
Para pesquisar hotéis na Albânia, clique aqui.