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Primeiro dia na África: perdi minha mochila com tudo dentro!

Primeiro dia na África: perdi minha mochila com tudo dentro!

E assim começou minha aventura sozinha pela África. Vim com tudo organizadinho, planejadinho, redondinho. Mas o acaso quis que minha trip já começasse com um susto daqueles.

Vamos começar do começo?
Meu voo, que teve escala em São Paulo, chegou à África por Joanesburgo. Mas lá não seria meu primeiro destino no continente – eu quis ir direto pra Suazilândia, o menor país do Hemisfério Sul.

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Assim que desembarquei, estava uma fila enoooorme na imigração. Pronto, já perdi o primeiro transfer que sairia do aeroporto direto pra Suazilândia, às 9h da manhã. O jeito foi me contentar em pegar o próximo, somente às 2h da tarde. Tempo de sobra no aeroporto, né?!

Quando finalmente passei na fila de imigração, o painel já nem mostrava mais em que esteira estava minha bagagem. O jeito foi pedir ajuda a um funcionário do aeroporto. “Ei, tô procurando as malas que vieram do Brasil com a South African Airlines…”. “Por aqui, madame, vamos procurar juntos”.

De longe avistei minha “inconfundível” mochilona roxa. Avisei pra ele, fui até lá, peguei minha mochila, e saí pra tomar um café da manhã e fazer hora naquele tempo toooodo ocioso no aeroporto.

Cheguei a pensar em abrir meu mochilão pra pegar minha escova de dente. “Ah não, vou usar a que a companhia aérea deu mesmo”.
Cheguei a cogitar abrir meu mochilão pra tirar o tênis e colocar um chinelo. “Ah não, vai dar trabalho”. Então fiquei lá quietinha apenas esperando meu transfer. Comi, andei, postei, fiz snapchat, dormi.

Quando chegou a hora, fui pro ponto de embarque. Dez minutinhos de atraso e peguei minha tão sonhada van para a Suazilândia – umas cinco horas de estrada me esperavam.

Cheguei lá já à noite. O motorista, muito atencioso, me falou “não vou te deixar sozinha num país desconhecido não, moça. Vou chamar um taxi de confiança para você e esperar aqui também, fica tranquila”. Ahhhh, os anjos que aparecem em minhas viagens.

O taxi chegou {me cobrou o triplo do que eu estava esperando} e seguiu caminho para o meu hostel, que eu já sabia que ficava no meio de uma reserva natural.

Daaaaa-lhe estrada. E não chegava nunca! Até que chegamos num ponto em que a única luz do local era o farol do carro. Nadaaaaa em volta. O motorista me saiu com uma assim “a senhora é casada?”. “Sou sim”. “Por que seu marido não veio na viagem também?”. “Ele chega semana que vem pra me encontrar”, já inventei essa história rezando mil ave marias, pai nossos, creio em Deus pai todo poderoso.

Quando eu não tinha nem respiração mais, e após passar por duas checagens de segurança da reserva natural, chegamos ao meu hostel, o Sondzela Backpackers.

O motorista foi tão simpático que fiquei até sem graça de ter pensado qualquer coisa {e continuei constrangida depois de passar dois dias nesse país cheio de pessoas muito atenciosas e que todo o tempo queriam ajudar sem nada em troca}.

Cheguei na recepção, que estava fechada àquela hora, e um rapaz veio me ajudar. Perguntou se eu tinha reserva. Falei que sim. Ele olhou, olhou, não achou meu nome. Tirei minha pastinha da mochila, peguei minha reserva impressa {mãe, obrigada por me ensinar a ser organizada! Às vezes funciona Rsrs}, e mostrei a ele. Ele leu, fez uma cara de dúvida, mas resolveu me deixar ficar.
Subi pro quarto louca por um banho. Quando abri o primeiro compartimento da minha mochila pra pegar um chinelo, uai?!, que sapato é esse?

Me bateu um desespero. “Roubaram minhas coisas e substituíram com coisas alheias!”. Abri mais um compartimento, e havia pacotes embrulhados fazendo volume. “Pronto, roubaram meu tênis, meus biquínis, vou chorar!”. Quando abri a mochila inteira, ué…, não to reconhecendo nadinha aqui. Essa mochila é minha mesmo?!

Foi só virá-la e encontrei uma tag da CVC. Eu nunca viajei com a CVC. Minha ficha começou a cair. Eu tinha trazido a mochila de alguém no lugar da minha…

Desci correndo até a recepção pra tentar conseguir internet. Ninguém lá, como já era esperado. Perguntei para outros hóspedes, e eles me disseram que o último voucher de internet já havia sido vendido e só chegariam vouchers novos na segunda-feira. Era sábado.

Meu hostel lindo em meio ao nada...
Meu hostel lindo em meio ao nada…

Na Suazilândia funciona assim na maioria dos lugares: você compra o direito de usar a internet por um período determinado. Acabou, tem que comprar mais. Até mesmo em restaurante o uso de internet é limitado – fui a um em que recebi um código para usar Wi-Fi por 35 minutos. E só. Acabou, acabou.

Bom, àquela altura, num sábado à noite, num hostel isolado num país minúsculo, sem internet, sem telefone, sem ninguém pra reclamar no ouvido, minha solução foi abstrair.

Eu estava num quarto compartilhado, mas o banheiro era enorme e tinha uma banheira. Peguei o vinho que eu não bebi no avião e estava na mochila, enchi a banheira, e fui tomar um banho quentinho e relaxante enquanto virava aquela mini garrafinha de vinho.

Relaxei. E depois dormi como uma pedra!

No dia seguinte acordei, coloquei a mesma roupa {eu precisava citar esse detalhe aqui?!}, e fui tomar um café da manhã.

Quando procurei minha pastinha com meus papéis de reserva {aquela organizadinha como mamãe ensinou, que, aliás, tinha meus dólares e euros dentro}, ué?! “Cadê??? Carla, não é possível. Isso não! Todo seu dólar estava ali!”. Catei, catei, catei na mochila, nada.

Desci as escadas pulando os degraus de tão nervosa. Cheguei à recepção e antes de terminar de perguntar, a moça já me entregou a pastinha. Com tu-do dentro {tinha ficado sobre a mesa na noite anterior quando fiz o Check in}. Nessa hora comecei a me encantar com o povo da Suazilândia.
Paguei pelo meu café da manhã e me dirigi ao local que ele seria servido. Pronto, me encantei de novo. O lugar era simplesmente lindo, as moças preparando o café numa fogueira no chão, algo absolutamente inesperado. Tudo estava uma delicia!

Dali peguei um transfer que o hostel oferece até um ponto próximo onde há mais circulação. Lá mudei para um mini bus. No caminho vi tanta pobreza, simplicidade, humildade. Vi um contraste social absurdo. Mas também tanta gente simpática, cada criança com um sorrisão no rosto, lugares tão diferentes do que estou acostumada.

A essa altura eu já nem queria mais saber do meu biquíni novo na mochila, nem do meu tênis de corrida, nem do perfume caro. Usando a mesma roupa do dia anterior, eu só queria absorver tudo aquilo, cada minuto, cada imagem, cada fala na língua local. Não estar com um casaco novo não faria a menor diferença naquela hora.

Meu destino nessa manhã foi o Mantenga Nature Reserve, um lugar que realmente recomendo a visita, que mostra muito da tradição local e tem até mesmo uma apresentação de dança. Mas vou falar dele em outro post, pois o foco desse é perrengue – e também uma boa dose de sorte.

Na volta da reserva, parei num centro comercial onde certamente haveria internet. Consegui um bar que oferecia 35 min de Wi-Fi se consumisse lá. Pedi uma cerveja, sentei perto da música ao vivo que estava rolando, e liguei o celular {acredita que o cantor tocou Michel Teló??? Sim, Ai, se eu te Pego na Suazilândia!!}.

Mas na hora fiquei tão preocupada em resolver a situação da minha bagagem que nem li as mensagens de WhatsApp, facebook, Instagram. Avisei pra família que estava tudo bem e pedi ajuda a uma pessoa nessa situação toda {obrigada, Bruno!}. Nem abri aqueles grupos todos de WhatsApp que tomaram a tela toda do celular.

A internet estava perigando cair a qualquer momento, então foi o tempo de enviar os dados da minha passagem e do rastreio da mala, atualizar uma foto no Instagram pra avisar q tô viva e tú tú tú tú. Acabou a internet. Sem internet, cortei a cerveja também e pedi a conta.

Voltei pro hostel – foi um perreeeeengue pra voltar! A Suazilândia é um país a ser conhecido de carro. Mas isso também é assunto pra outro post!

Chegando no hostel, a recepcionista vem me falar “Uma menina ligou te procurando. Queria falar de uma mala sua que está com ela”. “Oooooi?”. Jesus Maria José. Isso era demais pro meu coração. Mas… Perai… Como que ela me achou nesse hostel no fim do mundo?!

“Olha, o nome dela é esse aqui, ela deu aqui o nome do hostel dela em Cape Town. Parece que vocês trocaram de mala. Ah, e ela também é brasileira!”.

Meu mundo caiu… Senhooooor! Isso era bom demais pra ser verdade. Resolvi abrir meu WhatsApp e rolar a tela pra baixo {um milhão de mensagens entraram quando conectei no Wi-Fi do bar}, e lá estavam várias mensagens da minha amiga de mochilas trocadas e de amigos dela, abaixo daqueles grupos todos {Foi mal Mystila, nem pensei em abrir as outras mensagens!}.

Sabe como ela sabia onde eu estava? Pelo meu blog! Tinha um cartão do blog na bolsinho externo da mochila! Aí entrou lá e leu o último post com meu roteiro de 28 dias na África. Vocês acreditam nisso??? Rapaz, que esse blog só me traz alegria eu já sabia, mas depois dessa… Não paro de blogar nunca mais!

Ela deixou meu mochilão no balcão da companhia aérea dela em Cape Town. E agora só preciso me dirigir a esse balcão com meu passaporte em mãos pra pegar minha querida mochilona roxa.

Sério, depois dessa notícia, pedi um upgrade no hostel e me mudei para uma suíte que era a coisa mais maravilhosa! Tipo uma oca (na verdade, um estilo de construção tradicional aqui), com janelas por todos os lados, uma cama linda com almofadas de elefantes, um banheiro só pra mim. De babaarrr!!! Cara, eu merecia, né??? Aliás, esse hostel também merece um post só pra ele! Vejam no vídeo que postei no Instagram @fuigosteicontei .

Hoje de manhã fui para o ponto de encontro esperar minha van que me traria para Joanesburgo. Aproveitei que cheguei cedo, e voltei no mesmo bar da internet de ontem. Pedi um cappuccino já sonhando com o Wi-Fi! Só que hoje ele estava fora do ar. Tudo bem… Fiquei ali curtindo, fazendo hora, me despedindo de “Suazi”.

Quando pedi a conta pra ir embora, um senhorzinho super bem vestido que estava sentado ao meu lado puxou assunto. Ele é de Pretoria, África do Sul, mas dá aula de Direito na faculdade da Suazilândia. Começamos a conversar sobre como deve ser curioso para ele ser de uma república e ensinar leis num país comandado por um rei casado com quinze mulheres e onde os costumes são bem diferentes.

Quando eu disse que era jornalista no Brasil e escrevia sobre minhas histórias de viagem, ele emendou “hoje às 16h eu vou à casa de uma das esposas do rei, ela é minha aluna. Quer ir comigo? Vai ser uma história interessante para você!”. Já sabem que meu coração partiu nessa hora, né?! Bateu aquela dúvida se eu ficava e perdia passagem pra Cape Town, mochila, reservas em hotel. Ou se seguia viagem.

Bom… Eu me despedi e fui esperar minha van. Cheguei no ponto combinado 30 minutos antes do horário. Esperei mais ou menos uns 50 minutos ali em pé sem me mover. E a van não chegou. Quando ela já estava atrasada demais, resolvi pedir a internet emprestada de um Pub, entrei no meu e-mail, olhei o telefone da empresa que deveria ter me buscado, corri até um orelhão, liguei pra empresa e… Eles disseram que a van passou por lá e não me viu, por isso foi embora {não viram uma turista de casacão vermelho batendo no joelho e carregando uma mochila roxa e outra amarela?! Uhum}. E disse que se eu quisesse pegar a van ainda, precisaria correr e pegar um táxi até o escritório deles, pois eles esperariam mais dez minutos apenas.

O escritório ficava em outra cidade, mas tudo na Suazilândia, como vocês devem imaginar, é perto. Os taxistas, que acompanharam toda a minha espera e, agora, toda a minha correria, me cobraram o preço que quiseram pra me levar lá. Eu tive que pagar. No caminho, eu quase chorando no banco de trás achando que iria perder a van, e o taxista achou prudente parar pra abastecer. Foi quando eu mostrei pra ele que eu estava quase à beira de um ataque de nervos e que não podia perder essa van por nada, que ele largou o cara que estava abastecendo o carro dele com a mangueira na mão e acelerou de qualquer maneira.

Chegando na cidade, ele pegou a rua errada. Teve que fazer um retorno numa rua engarrafada. Pediu mil desculpas, eu ameacei chorar de verdade enquanto acompanhava cada segundo do relógio. Ele fez então um retorno proibido e chegamos, quase atropelando uma gordinha no caminho. A van já estava quase saindo, só tive tempo de jogar minhas coisas no porta malas e entrar. Será que era melhor ter ficado pro encontro com a esposa do rei?!

Agora nesse minuto eu estou no aeroporto de Joanesburgo aguardando meu voo pra Cape Town, onde {se Deus quiserrrr} vou pegar minha mochila toda direitinha e devolver a da brasileira que se meteu nessa furada comigo. Mystila, sua mochila tá guardadinha aqui comigo e a caminho de Cape Town!

Estamos chegandoooo!!!

Estamos chegandoooo!!!Ah, só pra constar, esse voo pra Cape Town já estava programado, não foi um desvio no meu planejamento só pra trocar as mochilas não, tá?!
Tem gente que chamaria tudo que me aconteceu de falta de sorte. Eu chamo de histórias pra contar! Se eu não viajasse muito, essas coisas não aconteceriam comigo. Mas eu também não teria vivido coisas incríveis nesses 38 países que já visitei.

Por isso.. Keep going! O perrengue faz parte, galera! Estou viva pra isso! Continuem mandando energia positiva pra essa história louuuuuca terminar bem ❤️ E pra essa viagem pela África continuar me surpreendendo muito mais que qualquer bem material.

atualizando: eu e Mystila os encontramos e destrocamos as mochilas assim que cheguei a Cape Town! Já demos tanta risada com essa história, que vocês nem imaginam! E no final tudo deu certo… Que venha o resto da viagem!

Olhem as mochilas gêmeas aí!!!
Olhem as mochilas gêmeas aí!!!

Obs.: essa é a primeira vez que escrevo um post pro blog pelo celular, então não sei se ele sairá formatado bonitinho! Vamos fazer o teste.. Se funcionar, prometo tentar postar mais durante a trip! Mas essa história eu não podia deixar de trazer pra cá…

Nessa viagem fiz todas as minhas reservas de hostel pelo Hostelworld, a melhor opção para encontrar hospedagens econômicas e incríveis no mundo todo!

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19 respostas

  1. Meeeeu, isso que a trip tá só começando hein?!
    Agora que eu não vou perder nenhuma postagem mesmo!!! hahahaha

    Não sei se eu conseguiria abstrair quando descobrisse que não estava com a minha mochila, em um lugar meeega longe e sem internet! kkkkk

    Abraço

    PS: O post tá lindo!!! Pode continuar contando seus perrengues em tempo real!
    🙂

  2. Mewwww delirei com seu relato! Voltei de Swaziland não tem 3 semanas e me vi na sua trip só que sem nenhum dos perrengues! Hahahaha sobre as mochilas muita coincidência!!!! Aproveite a viagem!!!

  3. Nossa que perrengue!!! Encontrei seu blog procurando sobre roteiro de viagem na Africa do Sul, vou estar por ai em Dezembro / Janeiro. Adorei sua história, esses sufocos fazem parte de viajar né?!
    Vou acompanhar seus posts por aqui.
    Beijos.

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