Vilnius foi a primeira cidade do meu roteiro pelos países bálticos (que, além da Lituânia, incluem também Letônia e Estônia). E começamos muito bem. Vilnius é bem pequenininha, então é fácil percorrer todos seus pontos turísticos a pé em um dia. Era até engraçado, porque olhávamos o mapa, calculávamos qual seria a rota até nosso próximo ponto turístico, dávamos alguns passos e, ops, chegamos!
A Lituânia inteira tem apenas três milhões de habitantes. E o país fica à beira do mar Báltico e faz fronteira com a Polônia, a Letônia, Kaliningrado (que é um pedacinho da Rússia fora da Rússia) e a Bielorrússia.
Além de ser uma capital linda, Vilnius reserva algumas surpresas como uma república independente bem no seu centro e o castelo de Trakkai, numa cidadezinha vizinha. E tem o maior centro histórico em estilo barroco de toda a Europa – tombado como Patrimônio Universal pela ONU. Seu passado também reserva histórias de massacres e superação. Não passe despercebido por isso e conheça mais da história desse lindo país durante sua visita. Fiquei lá uma noite e dois dias.
Confiram como foi meu roteiro:
O QUE FAZER EM VILNIUS
Chegamos a Vilnius logo cedo pela manhã. Apenas deixamos a mala em nosso hotel, pegamos um mapa e já fomos bater perna. A rua principal do centro é a Pilies, que em sua continuação recebe o nome de Didzioji e termina como Ausros Vartu (e tem pouco mais de 1km de extensão). Também vale uma voltinha pela rua Gedimino, onde fica o Teatro Nacional.
E, se você se interessa por história, recomendo começar pelo Museu das Vítimas do Genocídio (ou Museu da KGB), que fica na rua Gedimino. É que, dos pontos principais que vou indicar aqui para que você conheça, ele é o mais “afastado” – mas ainda a uma tranquila distância a pé dos outros lugares. Bom, como se pode imaginar, esse é um museu chocante e com uma energia muito forte. Ele representa os 50 anos da ocupação soviética na Lituânia. Durante a Segunda Guerra Mundial ali foi escritório da Gestapo e mais tarde da KGB.
Um pacto secreto entre a Alemanha de Hitler e a Rússia de Stalin levou ambos a tomar a Lituânia em 1939 com o objetivo de espalhar o comunismo. E essa ocupação durou de 1940 a 1991 – sim, é muito recente. Nesse período muitos lituanos foram mortos ou expulsos de seu país e enviados para a Sibéria.
E o museu faz essa realidade saltar ainda mais aos olhos, pois esse escritório dos horrores está mantido exatamente como ele era até 1991. Em seu subsolo pode-se visitar as prisões, os quartos de tortura, o quarto de execução, ver fotos das vítimas, os equipamentos de vigilância da KGB. Quadros nas paredes descrevem o significado de cada cômodo e histórias dessa época – histórias estas que me embrulhavam o estômago e me faziam refletir sobre como seres humanos foram capazes de fazer tudo aquilo com seus semelhantes. E pensar que faz apenas 25 anos que a Lituânia se livrou do poder soviético e que esse escritório da KGB fechou seu funcionamento. Palavras não conseguiriam descrever o que se presencia ali. É necessário ir até lá.
O Museu da KGB é muito informativo e você pode visita-lo em cerca de uma hora. A entrada é baratinha – 4 euros para adultos ou 1 euro para estudantes crianças e aposentados, e mais 2 euros caso queira fazer fotos lá dentro – e ele não abre às segundas e terças. Observe na paredes do lado de fora o nome de combatentes que tentaram resistir ao sistema soviético. Eles apenas queriam a liberdade de seu país. E foram massacrados por isso.
Depois desse choque de realidade, é hora de explorar Vilnius e ver como ela se recuperou dessas cinco décadas de sofrimento e hoje é uma cidade linda de se viver. Volte caminhando pela rua Gedimino e não deixe de observar o Teatro Nacional de Ópera e Balé da Lituânia. Você também passará pelo Museu do Dinheiro (eu não entrei) e pelo shopping Go9 (uma graça!).
Seguindo pela Gedimino, você chegará à Catedral Square, onde ficam a Catedral Basílica e a Vilnius Cathedral Bell Tower (onde você pode subir para ter uma vista panorâmica da cidade) e o Palácio do Grande Duque da Lituânia.
Ali atrás fica a subida para Gediminas Castle Tower. Dá para subir andando (foi minha opção) ou de funicular (1 euro apenas ida, ou 2 euros ida e volta, veja mais informações aqui). Muita gente estava subindo a pé, pois era tranquilo (só estava escorregadio por causa da neve). Esta torre é um símbolo da cidade e do país, tanto que era a figura que aparecia na antiga moeda da Lituânia. Suas primeiras fortificações foram construídas no século 13 a mando de Gediminas, Gran duque da Lituânia. De lá se tem uma vista bem bonita da cidade.
De lá, desci e fui até o Bernardine Garden. Como era Inverno, ele estava todo coberto de neve, mas ainda assim lindo.
A próxima parada são a St. Anne and Bernardine Church. Uma ao lado da outra, são lindíssimas e com entrada gratuita.
Dali ande até a rua Literatu. É bem curtinha, mas considerada um templo para os artistas lituanos. Em suas paredes você verá algumas obras em homenagem aos escritores, poetas e tradutores fazendo com que esta pequena rua se torne uma galeria a céu aberto.
E agora se prepare para algo absolutamente inusitado: procure a ponte do amor de Vilnius (que vai ter diversos cadeados pendurados nela), ou a rua Uzupio, e, de repente, atravesse para um bairro que se autoproclama uma República Independente. Sim! A República Indenpendente de Uzupis (que significa “do outro lado do rio” por estar margeada pelo rio Vilna) fica bem no centro de Vilnius e se declarou um estado independente em 1997. Antes era um bairro habitado por artistas, boêmios, músicos e agora se intitula um país dentro de outro país.
E a coisa é bem séria, tá! Eles têm presidente, bandeira, hino nacional, moeda própria, leis próprias, um exército com 15 soldados e até uma Embaixada no Brasil e um Consulado em São Paulo. Não é necessário visto para entrar lá, basta atravessar a ponte a pé e, voilá, você chegou. Ainda vou fazer um post aqui apenas sobre esse curioso lugar na Lituânia!
Explore esse pitoresco lugar sem pressa, caminhando por suas ruas. Lá em Uzupis nós fizemos um lanche na Uzupio Picerija.
Dali volte para a rua Pilies, que a essa altura já terá quase virado a rua Didzioji. Siga descendo por ela. Você passará pela Igreja Ortodoxa St. Nicholas, a Igreja Ortodoxa St. Paraskeve, a Igreja St. Casimir, a Town Hall Square, a Igreja da Santíssima Trindade e, por fim, Gates of Dawn.
Se você não entrar em nenhuma das outras Igrejas, suba pelo menos na capela que fica na Gates of Dawn. No século 16 esses portões muitas vezes continham artefatos religiosos destinados a proteger a cidade dos ataques e a abençoar os viajantes. E nessa capela está uma pintura da Virgem Maria Mãe de Misericórdia, que diziam ter poderes milagrosos. Durante séculos, a imagem tem sido um dos símbolos da cidade e um objeto de veneração tanto para a Igreja Católica Romana, como para a Ortodoxa. Esse lugar me chamou a atenção porque eu via que todo mundo que passava ali em frente, parava e fazia sinal da cruz, ou parava e ficava ali rezando uns minutinhos antes de seguir andando. Milhares de oferendas adornam as paredes da capela e muitos peregrinos de países vizinhos vêm para rezar em frente à pintura.
A pintura da Virgem Maria Mãe de Misericórdia é linda, coberta com roupas de ouro e deixando apenas rosto e mãos visíveis. Dezessete milagres são atribuídos à imagem. Um deles relata que em 1702 Vilnius foi capturada pelo exército sueco durante a Grande Guerra do Norte. Os suecos, que eram protestantes, teriam zombado da pintura, proibindo canções e orações, e festejando ao redor da Gates of Dawn. Um soldado ainda atirou na pintura (o buraco de bala ainda pode ser visto na manga direita). No início da manhã do Sábado Santo, os pesados portões de ferro teriam caído e esmagado quatro soldados suecos. Dois morreram na mesma hora e dois depois por causa dos ferimentos. No dia seguinte, no Domingo de Páscoa, o exército Lituano com sucesso contra-atacou perto do portão. Hoje essa imagem sagrada é venerada em diversos países e sua importância é tamanha que a pequenina capela foi visitada pelo Papa João Paulo II em 1993.
A essa altura você já terá percorrido os principais pontos de Vilnius em um dia. Volte passeando pela rua principal Ausros Vartu / Didzioji / Pilies. Ali há diversas opções de cafeterias, bares, restaurantes. Nós jantamos em um restaurante de comida local chamado Forto Dvaras. Amei o interior desse restaurante! Num estilo meio de caverna, parece um labirinto. Amei a decoração! E é um dos melhores lugares ali do centro para se comer a verdadeira culinária lituana. Quando cheguei, estava uma fila de espera bem grande. Foi nessa hora que bati o martelo de que era ali mesmo que eu iria jantar hehehe E valeu demais! Comida sensacional por um precinho ótimo. Cada zeppelin (prato tradicional), por exemplo, custava 4 euros. A taça do vinho da casa, 2 euros. Uma jarra com 350ml, 5,70 euros. Ah, e não deixe de experimentar a sobremesa da foto abaixo! É deliciosa e serve muito bem duas pessoas. Também teve comida típica, mas vou falar em outro tópico mais abaixo.
Este foi mais ou menos o roteiro dos lugares que percorri durante o dia:
À noite ainda fomos a alguns barzinhos (a Lituânia é famosa por suas cervejas artesanais) e à boate Salento Disco Club – animadinha e muito frequentada por estudantes Erasmus.
No dia seguinte decidimos de última hora adiar nossa passagem de ônibus e prolongar nosso dia em Vilnius a fim de ir conhecer o famoso Castelo de Trakkai. Fomos de carro com um amigo que fizemos lá, mas me pareceu bem fácil ir de ônibus (havia vários horários de saída na rodoviária, veja todas as informações aqui e aqui). O castelo é lindo! E no inverno todo o lago Galve em seu entorno estava absolutamente congelado, o que ainda mais um ar de lugar dos sonhos. Crianças e adultos brincando na neve. Pescadores fazendo buraco no gelo a fim de praticar seu hobby. Vi até mesmo uma espécie de windsurfe, mas deslizando no gelo. Demais!
A pequena cidade onde fica o castelo, e também chamada Trakai, é a antiga capital da Lituânia e está a apenas 28km de Vilnius. E fica lotada nos fins-de-semana, em especial em estações mais quentes!
Não entrei no castelo, apenas circulei em sua volta. Mas já valeu! Muita gente me disse que o mais bonito era mesmo observá-lo de fora. Você precisa ir até lá! Leia mais sobre Trakai no blog Viaggiando, eles foram de trem e as fotos são de dias de Verão, o que mostra a ilha do castelo sob outra perspectiva.
Na volta a Vilnius paramos para almoçar em um restaurante asiático indicado por nosso amigo lituano. Comida boa e precinho ótimo! É um dos restaurantes preferidos dele na cidade (e ele também nos apresentou essa bebida da foto abaixo, que seria tradicional no país. Parece um refrigerante e não leva álcool). De lá precisamos ir para a rodoviária, pois nosso próximo destino seria Riga.
ONDE FICAR EM VILNIUS
Em Vilnius é essencial ficar ali pelo centrinho onde estão os principais pontos turísticos. Digo isso porque em muitos lugares o transporte público nem entra e não é muito fácil consegui taxi na rua.
Eu me hospedei na Guesthouse Litinterp e achei uma excelente escolha. A guesthouse fica num pequeno prédio com apartamentos adaptados para que cada um seja tipo um mini hotel. Tive meu quarto privativo com duas camas de solteiro e banheiro no corredor (mas que somente eu e minha amiga podíamos usar). E a localização da Guesthouse Liniterp era perfeita! Eu fiz absolutamente tudo a pé e sem precisar andar muito.
O QUE COMER EM VILNIUS
Na Lituânia a culinária leva muita batata. Sopa de batata, panqueca de batata, bolinho de batata, torta de batata. Mas se tinha uma comida que todo mundo dizia que eu tinha que experimentar, era zeppelin. E, adivinhem, era feita com batata recheada. Mas era uma batata diferente, tinha uma textura mais grudenta, eu não sei explicar. E me garantiram que leva apenas batata. Você pode variar nos molhos que vêm com ela.
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Veja mais sobre as comidas da Lituânia neste ótimo post da Adriana Setti.
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