Fui Gostei Contei

Mulher, viajante e independente: por que você deve, sim, viajar sozinha

Esse é um post especial pela data de hoje: 8 de março, Dia Internacional da Mulher! Parabéns a todas nós, por nossas conquistas e por tudo que ainda está por vir…

Voltei de mais uma viagem que fiz sozinha há pouco tempo. Sim, sozinha, apenas eu e minhas malas. E acho interessante a reação das pessoas. No Instagram (me segue lá: @fuigosteicontei) houve meninas me contando que tinham vontade de viajar assim, sem mais ninguém, mas queriam dicas e tinham receios (Girls, esse post é para vocês!). E antes da minha ida, alguns amigos perguntavam: “Vai com quem, com sua mãe?” (que costuma ser minha companheira de aventuras). E, diante da minha resposta, confesso, era curioso observar a cara de alguns deles. Tinham uns que continuavam me olhando, mudos, como quem diz “Que maluca!”, outros, mais descarados, soltavam um “Que coragem!!!”, e havia ainda aqueles que deviam ficar com pena de mim, pensando que, ou sou chata, ou sou uma abandonada na vida.

Mochila nas costas e pé na estrada... Foto: Jonatas Silva
Mochila nas costas e pé na estrada… Foto: Jonatas Silva

Que nada! Sou é solta mesmo. Os motivos para viajar sozinha podem ser muitos: amigos/família/companheiro sem férias/dinheiro/vontade de ir para aquele destino. Ou até mesmo a simples vontade de não ter ninguém te apressando no banho de manhã ou te atrasando num café da manhã demorado (#egoístasÀsvezes hehehe).

Neve em Las Condes, meu bairro em Santiago do Chile: uma raridade!

Essa não foi a primeira vez que viajei sozinha. E também tenho experiências viajando com amigos, em casal, em família – todas sensacionais. Cada uma tem a sua vantagem. A primeira vez que embarquei sozinha foi para um intercâmbio em Vancouver, Canadá. Mas aí é moleza, a maioria ali está viajando sozinho mesmo, então todo mundo acaba virando amigo durante a temporada longe de casa (nunca vou esquecer os amigos que fiz lá!). A segunda foi quase na sequência dessa, num intercâmbio para Santiago do Chile. Essa foi mais desafiadora (em termos de amigos e companhia), pois fui para ficar mais tempo e a maioria dos estudantes que iam para lá ficavam no máximo umas duas a três semanas – ou seja, quando a amizade estava para vingar, era hora de dar tchau. O jeito foi fazer amigos locais (quanta saudade!), mas aí o problema era que, enfim, sendo locais, eles tinham seus compromissos de trabalho no dia-a-dia, né. Ou seja, companhia de dia que era bom, nada.

Despedindo do Canadá com mensagens de todos os amigos na minha bandeira
Em uma rua qualquer de Santiago do Chile percorrendo museus

E foi justamente lá, em Santiago, que descobri aos poucos o quanto gosto (demais até hehe) da minha própria companhia. Nos dias em que não tinha um amigo para fazer alguma coisa, escolhia um bairro ou um ponto turístico e me mandava para lá. Eu não queria era perder tempo. E essa experiência foi maravilhosa, pois uns meses depois, quando minha mãe, minha tia e amigas foram me visitar lá, eu conhecia a cidade como se fosse uma local. Sabia os melhores pontos, por onde ir, como ir, onde comer, o que fazer, onde comprar souvenirs legais. Eu era praticamente um guia Lonely Planet falante.

Um dos meus programas favoritos em Santiago: ler os poemas de Neruda deitada no Parque Florestal

Viajar sozinha é assim. Você decide seu roteiro e não precisa agradar a ninguém. Acorda, olha pela janela, confere a previsão do tempo, e decide se quer matar numa manhã aqueles seis pontos turísticos imperdíveis da cidade numa tacada só ou se prefere sair sem rumo pelo bairro e, quem sabe, fazer umas descobertas legais, parar pra tomar um café e ler um pouco, observar mais o que se passa à sua volta… Taí. Acho que esse é o grande diferencial de sair sozinho. Você cria lentes de aumento. Percebe tudo, observa as pessoas, seus costumes, fuxica a conversa alheia (faço muitoooo isso!), lê com mais atenção uma placa pelo caminho, vira na rua errada e nem se dá conta (porque não tem ninguém do seu lado para te puxar e te tirar do novo destino que estava a se formar), puxa papo pra pedir informação, faz amigos.

Quaaaaaaaaaaase peguei tudo! Uma selfie tradicional em Amsterdam

Aí ferrou. Se eu já não tinha medo nenhum de me arriscar por aí sozinha, aconteceu que comecei a tomar gosto pela coisa. E pode ser para qualquer destino, não é só para fora do país não, viu! Ano passado mesmo fui para um Congresso de Turismo em São Paulo sozinha. Até aí tudo bem, normal. E sim, claro, sabia que lá encontraria outros blogueiros e até mesmo uma grande amiga que mora na cidade. Mas fiz questão de não ficar na casa de ninguém. Fechei reserva em um hostel na Vila Madalena (aliás, se hospedar em hostel é dica certeira para quem viaja sozinho, pois é o melhor lugar para começar a conhecer outros viajantes e fazer amizades. Mulheres, abram o coração, vai! Hoje há vários hostels com quartos compartilhados exclusivamente femininos ou mesmo privativos, não há mais desculpas). E nessa viagem a Sampa tirei ótimos momentos para mim mesma, onde explorei a Vila Madá e suas ruelas, escadarias, cafeterias, lojinhas. Puro amor!

“Que nada me impeça de viajar. Amém.”

Mas uma coisa é certa. Sou mulher e preciso, sim, ter minhas precauções. É fácil sair por aí dizendo que hoje as coisas mudaram, as mulheres são independentes e respeitadas, fazem o que quiser e que todo mundo tem que entender. Acontece que na prática não é bem assim. Infelizmente uma mulher sozinha, especialmente uma turista sozinha, é muitas vezes vista como vítima fácil, ou mesmo pode vir a ser abordada de forma constrangedora ou abusiva. Se sentir um alerta de perigo, seja ríspida, corte o assunto e se aproxime de outras pessoas. Nunca passei por nada sério, só uns homens desagradáveis mesmo – mas esses estão espalhados por toda esquina. Argh!

Em Pucon, no Chile, onde conheci minha melhor amiga chilena – no ônibus a caminho de lá

E como se faz amigos saindo por aí sozinho! Quando já temos companhia, na maioria das vezes não há espaço para mais ninguém, e nem mesmo estamos buscando acrescentar alguém de fora naquele momento tão reservado e íntimo. Ok, amo isso também! Mas conhecer gente por onde passo é irresistível. Pode ser num bate papo pra tirar dúvidas que não leve mais que três minutos. Mas também pode ser sua companhia de uma tarde inteira – ou de uma vida! Já conheci muita gente assim, amigos com os quais tenho contato até hoje – viva a internet!

Mapinha na mão para explorar Victoria, no Canadá.

E busque se precaver. Evite deixar à mostra câmeras ou acessórios que chamem atenção à noite ou em lugares mais desertos. Use doleira e carregue ali seu dinheiro, cartões, documentos. Baixe aplicativos com mapas que podem ser acessados offline (Eu uso o maps.me , que me quebra um super galho no exterior). Pergunte aos locais sobre como se proteger. Faço bastante isso e recebo ótimas dicas. E acho super legal quando uma pessoa me vê sozinha e vem comentar “Moça, sei que aqui é um lugar seguro e cheio, mas, ao menos na rua e a essa hora da noite, guarda sua câmera dentro da bolsa. Aqui não há assaltos, mas você está sozinha, evite despertar essa tentação” (aconteceu em Madrid, num alerta vindo de outros turistas portugueses). Fofos!

Em Foz do Iguaçu, num tour sozinha pela cidade para conhecer as Cataratas

Meu conselho é que você estude bem o destino que está indo visitar, pesquise sobre como é a segurança lá, se há a cultura do machismo, se o transporte público é seguro, se andar à noite é tranquilo. Se encontrar informações ruins, talvez seja melhor rever e esperar por uma companhia nesse roteiro. Mas não desista, procure outro mais acolhedor e arrume as malas 🙂

De malas prontas em Vancouer, Canadá

Tô aqui pensando numa coisa ruim de viajar sozinha para terminar esse post. E acho que o pior mesmo é ter poucas fotos suas nos lugares. Mas claro que isso depende apenas de você – e da sua cara de pau para sair por aí pedindo para tirarem fotos suas, hehehe. Eu, uma amante/amadora de fotografias, coloco minha câmera no pescoço e curto o momento fotografando pessoas, lugares, momentos. E, quando lembro, peço para alguém me incluir no cenário. Rolam também umas selfies – muitas vezes melhores até que a foto tirada por um desconhecido, rsrs. E hoje o viajante independente conta até com o famigerado pau de selfie! Não me rendi a ele nessa última viagem, mas senti uma falta danada do bichinho pra tirar uma selfie maneira na frente do I AMSTERDAM – meu braço não era longo o suficiente para encaixar o monumento todo, e se eu mostrar as fotos que pedi para tirarem de mim, rola uma sessão gargalhada aqui no blog!!! Hehehe.

Fazendo pose nos Jardines de Sabatini, em Madrid
Dito tudo isso, espero estar encorajando as aspirantes a viajantes independentes a se jogarem por aí. Nos próximos dias entrarão aqui todas as minhas aventuras sozinha por Madrid, Toledo, Segóvia e Amsterdam. Antes da sessão Europa também vou terminar as dicas de hostels no bairro de Santa Teresa, um dos meus preferidos no Rio de Janeiro. Fiquem de olho, se inspirem e vejam tudo o que é possível fazer com suas próprias pernas. O mundo é muito grande para ficar dentro de casa com medo do desconhecido.
Se ir para outro país for um passo muito grande, comece na sua própria cidade. Vá àquela exposição que você está doida para conhecer e que ninguém tá topando acompanhar. Àquela feirinha de antiguidades que tem só uma vez por mês e que seus amigos acham uma furada. Ao cinema ver um filme na segunda-feira (ninguém precisa esperar o fim-de-semana chegar pra ser feliz). À cafeteria nova do bairro que você passa em frente voltando do trabalho e ainda não parou para conhecer a especialidade da casa.
Nos aquedutos de Segóvia, na Espanha
Nos aquedutos de Segóvia, na Espanha
Puxe uma cadeira e resista aos minutos iniciais de apreensão e a pensamentos do tipo “Vão achar que levei um bolo de alguém por estar aqui sozinha”. Que nada, ninguém está nem aí. Pegue seu celular, um livro, uma revista, o cardápio – qualquer coisa – e conte dez minutos enquanto degusta um capuccino. Te juro, se você conseguir esvaziar a xícara sem queimar a língua, estará correndo um sério risco de também tomar gosto pela coisa…
Super vista de Toledo, na Espanha
E, CLARO, FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER!
Uma cafeteria qualquer na Vila Madalena, em São Paulo
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