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Vamos, então, dar continuidade ao diário do Caminho da Luz?DIA 3 do Caminho da Luz
Acordamos em Pedra Dourada, no ótimo Dourada Parque Hotel, e 25km nos aguardavam. Mas não sem antes tomar um super café da manhã, com direito a ovinho mexido, queijo minas, suco natural e… Ops! Cadê o pão de queijo que estava aqui? Cheguei atrasada e não sobrou nem farelo do meu belisquete mineiro preferido. Terminei meu café, pus minha mochilinha nas costas e fomos nos preparar para nossa foto em grupo antes de cada um seguir para estrada. E nisso.. “Carlaaaa, tem um presente aqui para você!”. “Pra mim? Que presente?”, perguntei, toda curiosa. E me entregaram um embrulho quentinho de papel alumínio. Quando abri, o cheirinho entregou o que era: as meninas da cozinha do hotel haviam pedido para me entregar um moooonte de pão de queijo fresquinho que havia acabado de sair do forno. Nem sei explicar minha felicidade. A gordines aqui se fartou! E como estava bom! Foi o combustível certeiro para encarar a estrada que nos esperava. Começamos a andar e logo recebemos o aviso do Rodrigo, o nosso ótimo guia “Mais à frente fica a casa da dona Cilene, num desvio de menos de dez minutos do nosso caminho. Posso levar vocês até lá e já vou dar a dica: ela faz uma pele de angu frita que é uma delícia!”. Pele de angu frita? Que negócio estranho é esse? Curiosa que só, óbvio que me mandei pra lá. Se você também nunca ouviu falar dessa iguaria mineira, olha só essa foto de como é o preparo dela: Daria para ignorar esse sorrisão da Dona Cilene? Impossível! Lá estava ela esperando pelos peregrinos com um suco verde feito na hora, muita pele de angu frita e um bolo de fubá que nossinhoraducéu! Que trem bão! Fazia menos de uma hora que eu havia me acabado em pão de queijo quentinho. E já estava devorando mais dois pedaços daquele bolo de fubá molhadinho e trocando prosa sem pressa numa casinha simples no pé da Pedra Dourada com um visual de dar inveja a muito milionário de condomínio de luxo das grandes metrópoles. Antes que eu me atracasse com o tabuleiro inteiro de bolo, nos mandamos de novo para a estrada. Não sem antes a Dona Cilene nos mostrar uma árvore que ela tem no quintal. Daquelas bem antigonas e com um tronco que acho que nem se eu juntasse com mais duas pessoas daria conta de dar um abraço completo nela. E pensar que algumas pessoas têm outra percepção sobre o que é realmente riqueza… O resto do dia foi debaixo de muito sol. Mas, depois de dois dias muito intensos com morros, o terceiro até que foi encarado com mais tranquilidade. Suamos muito, andamos muito, mas nos divertimos o dobro. No nosso grupo dá para separar a galera em dois tipos: os que vão lá na frente em passos rápidos, e os que ficam pra trás e sempre chegam por último. Sem meio termo. E falo feliz da vida que estou nesse último grupo aí. Com o Caminho da Luz estou aprendendo que a pressa não é o mais importante. Que por mais que eu tenha a disposição para apressar o passo e, sozinha, tornar aquele dia de caminhada mais curto, numa dessa posso perder uma boa história de vida, um “causo” de viagem, a oportunidade de aprender com alguém que tem outra visão de mundo. Então, desacelerando e aprendendo a andar no ritmo dos outros diferentes de mim, eu estou vendo melhor o que está à minha volta, percebendo cheiros e sensações, ouvindo mais a natureza. E compartilhando todos esses momentos com novos amigos. Quando chegamos à nossa pousada em Faria Lemos, chamada Ventura, mal tive tempo de tomar banho e lavar minha roupa e já dei com uma parte do pessoal tomando cerveja na varanda. E aqui veio mais uma lição de vida. Entre eles estava o Gilson. Pensem numa pessoa alto astral e sempre brincalhona. Ele está aqui acompanhando a filha, a Luma, que adora fazer esses caminhos. Ele veio sem ter nenhum preparo físico. E está dando um banho na gente! Agora vem a parte da lição. Imaginem que essa mesma pessoa mais cedo, durante a caminhada, foi morder um pedaço de uma folha (sei lá por que ele quis fazer isso, rsrs) e nisso quebrou o dente da frente. Sim, o janelão da frente! Quebrou, caiu no chão e ele perdeu o pedaço quebrado. E sabe o que ele estava fazendo depois disso? Piada e tomando cerveja. Você vê a sutileza dessa atitude? Ele poderia ficar de mau humor, exigir ir imediatamente procurar um dentista, desistir de caminhar, querer voltar pra casa (ele é láááá do Mato Grosso). Ao invés disso, ele marcou um dentista pra mais tarde e enquanto isso ficou se divertindo. “Rapaz, essa caminhada é tão pesada que tô me livrando de qualquer peso pra ficar mais leve. Até um pedaço de dente eu já deixei pra trás!”. E dá-lhe gargalhada. É como eu falei com ele. Ele quebrou um dente, e não uma perna. Então bola pra frente e caminhada que segue. À noite jantamos num restaurante chamado Feijão sem Bicho (Hahaha, amo esses nomes de Minas Gerais! Oh comidinha gostosa que tinha lá!) e terminamos tomando uma cerveja na praça, onde você pode experimentar um torresmo feito da barriga do porco. Era segunda-feira e a pracinha estava super movimentada! E lá estava de volta o Gilson com seu sorriso aberto, dessa vez sem nenhum dente faltando (um dentista colocou um provisório no lugar). Sabe quanto deu minha conta ao final lá nesse boteco? R$5. O preço de uma cerveja de 600ml + 10%. Para adoçar a noite, atravessamos a rua e compramos um sorvete da Sol e Neve, daqueles que você serve um potinho e depois pesa na balança para pagar. Custou R$4,10. Como não amar Minas Gerais…??DIA 4 do Caminho da Luz
Madrugamos em Faria Lemos com uma estrada de 22km nos esperando até Carangola, a maior cidade por onde passaríamos durante todo o trajeto. E vou te dizer algo que eu jamais esperava ouvir de mim mesma: Nem senti o caminho! Demos uma sorte que hoje estava mais nublado. Péssimo pras fotos, ótimo pro nosso corpo. E não havia grandes subidas e descidas. Só muita estrada de chão e um pedacinho de asfalto. E hoje foi mais um dia especial. Eu comentei aí em cima que sou sempre do grupo dos atrasados. Mas tem uma pessoa que me supera: a Luma, filha do Gilson. Pensem numa pessoa tranquila, com passo devagar, que ama curtir cada visual, cada cheiro, cada som. É ela. E hoje tive a oportunidade de ficar um pouco mais ao lado dela. Ela, que nos últimos dias esteve mais fechada, hoje se aproximou mais da gente. E veio pra acrescentar! Começou quando ela me perguntou “Você está sentindo esse cheiro?”. “Não…”, respondi, cafungando. “Um cheiro doce, tipo de mel. Não está?”. Opa.. Peraí. Tô sim! “Que delícia!”. E aquele cheiro, que até então eu nem havia percebido, me acompanhou o resto da caminhada. Não descobrimos do que era, mas era bom demais! Numa outra hora, estávamos conversando sobre alguma coisa e do nada ela fez um sinal com a mão, e olhou em volta. Aí sussurrou “Tem um pica-pau em algum lugar…”. E foi quando me dei conta do barulhinho dele martelando numa árvore. Começamos a procurar e lá estava ele, no alto de um galho. Logo surgiu um outro, e ficaram os dois dando bicada na madeira. Fora os outros tantos pássaros que cruzavam nosso caminho. Na sequência, ela avistou vários búfalos. De longe, achei que fossem, sei lá, mais touros, como sempre víamos na estrada. Mas não. Eram búfalos. E super calmos, que não se agitaram nem um pouco quando chegamos bem perto. Pelo contrário, nos encaravam quietinhos sem nem piscar por vários minutos. Incrível. Quando chegamos a Carangola, todos foram tomar seu banho. Estamos hospedados no Hotel Central (R$65 a diária para uma pessoa, R$110 o quarto duplo e R$130 o triplo). Depois almoçamos juntos no Café Mixirica, quase em frente ao nosso hotel, com uma comidinha deliciosa e várias cervejas diferentes. O prato principal do dia, por exemplo, custava R$20,90 ou R$18,90 a meia porção. E era muito bem servido. Eu comi um sanduíche de frango no pão francês com catupiry e milho. Uma delícia! E apenas R$9,90. De sobremesa, atravessei a rua e fui tomar um sorvete da Sol e Neve. Acabei experimentando uma das paletas deles, a de leite trufado. Sinhôducéu! De comer de joelhos de tão bão. À tarde voltei pro hotel pra descansar. Mas na verdade fiquei é escrevendo no blog. Isso aqui me vicia e me prende de uma forma que eu nem me sinto trabalhando. E à noite saímos para jantar todos juntos. É muito legal ver a amizade e intimidade que vai se desenvolvendo ao longo dos dias de convivência. Dei sorte de cair num grupo muito tranquilo e gente boa. Aqui tudo é motivo para risada. Ainda faltam 4 dias de caminhada e mais de 90km. Terminaremos nossa peregrinação indo até o topo do Pico da Bandeira, o terceiro mais alto do Brasil e o primeiro alcançável por trilha. Estou fazendo essa viagem com o apoio da agência Rastro de Luz, que organizou todo o roteiro e está dando uma atenção muito especial à nossa viagem. Ter vindo com eles, ao invés de vir por conta própria, está sendo um diferencial, pois eles estão nos levando a lugares que eu não conheceria sozinha, além de todo o suporte com guias durante as caminhadas. DICAS EXTRAS:- Faria Lemos é uma cidade bem pequena, mas com opções simples de lugar para comer ou para se hospedar. Já Carangola é mais desenvolvida, e lá você encontrará bastante opção de restaurante e bar, e também mais alternativas de hospedagem.
- Se estiver precisando. aproveite para sacar dinheiro em Carangola, pois lá estão os principais bancos.
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Leia como foram os outros dias do Caminho da Luz aqui:
Dias 7 e 8: a esperada subida ao Pico da Bandeira
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