A Travessia da Juatinga é uma das trilhas mais desafiadoras e belas do Brasil. Percorrendo a Península da Juatinga, em Paraty, essa jornada leva por praias desertas, comunidades caiçaras e paisagens de tirar o fôlego.
Neste relato, compartilho nossa experiência pessoal nessa aventura inesquecível, incluindo:
- melhor época;
- meu roteiro completo;
- planilha de custos;
- informações sobre Turismo de Base Comunitária.
O que é a Travessia da Juatinga?
A Travessia da Juatinga é uma trilha de longo curso, com distâncias que variam entre 50 km podendo passar dos 100 km. Situada entre Paraty Mirim e a Vila Oratório, passa por praias paradisíacas e vilarejos caiçaras. Apesar de exigir bom preparo físico, recompensa com experiências autênticas, contato direto com a natureza e imersão na cultura caiçara local.
Qual a melhor época para fazer a Travessia da Juatinga?
A melhor época para realizar essa travessia vai de abril a setembro, quando as chuvas são menos frequentes, bem como o clima está mais seco e agradável para caminhadas longas.
Em especial entre os meses de junho e agosto, no inverno, o céu costuma estar limpo e as temperaturas mais amenas, embora a água das cachoeiras possa estar bem fria. Porém, o outono também costuma ser uma excelente época para escolher, já que abril e maio ainda oferecem temperaturas agradáveis, sem o calor excessivo do verão.
Porém os meses de verão, de dezembro a março, não são os melhores para a travessia. Isso porque, além das altas temperaturas que tornam a caminhada mais exaustiva, esse período é marcado por chuvas intensas e frequentes, que podem dificultar o trajeto e até mesmo tornar algumas trilhas perigosas devido ao risco de deslizamentos.



Em que época fomos
Nós fizemos a Travessia da Juatinga na primeira semana de Março. Fiquei de olho na previsão e dei a sorte de pegar uma semana de sol e sem chuva. No entanto, fez muito calor. E, como boa parte da trilha é em mata atlântica fechada, nosso corpo produz muito suor e se torna mais cansativo.
É essencial beber muita água. Fique atento à previsão do tempo, e não se aproxime de cachoeiras em período de chuva.
Roteiro na Travessia da Juatinga
Dia 1: Partida e primeiro acampamento

Logística
Você pode iniciar a Travessia da Juatinga tanto por Vila Oratório, como por Paraty Mirim (nossa opção).
Fomos de carro, e estacionamos em Paraty Mirim. Dali, pegamos um barco para o Saco do Mamanguá. Contratamos lá na hora mesmo.
Pontos visitados
Nesse dia subimos o Pico do Pão de Açúcar. Decidimos fazer essa trilha no entardecer para ver o pôr do sol lá de cima – indico levar lanterna para descer depois. Apesar de ser uma subida bastante inclinada, o bom é que já vai te preparando para os dias a seguir.
Hospedagem e Alimentação
Acampamos no Camping do Preá, administrado pela Katita. Fica de frente para a praia, os banheiros estavam muito limpos e conta com cozinha com utensílios básicos. Também possuem uma pequena lanchonete que vende pastel, cerveja, refrigerante, água e sinuca.
WhatsApp: (24) 99814-6202
Se você preferir dormir em uma pousada, indico a Casa Pé na Areia, na Vila do Cruzeiro.
Distância percorrida
Aproximadamente 4km
Altitude máxima
450m
Dia 2: Do Mamanguá a Pouso da Cajaíba

Pontos visitados
Seguimos por trilha passando pela Vila Cruzeiro, até a praia do engenho. Aí cruzamos o morro até a Praia Grande da Cajaíba, e pelas seguintes praias: Itaoca, Calhaus, Itanema, e por fim, Pouso do Cajaíba.
Pouso da Cajaíba é uma vila caiçara isolada e cercada por mata atlântica. O local abriga uma pequena comunidade de pescadores e é um ponto de descanso essencial para os trilheiros, embora ainda preserve costumes locais.
Hospedagem e Alimentação
Pela manhã, tomamos café da manhã no Saco do Mamanguá no Restaurante do Seu Orlando – ovos mexidos, pães, café e leite.
Em Pouso da Cajaíba ficamos no Camping do Seu Lourival. Ambiente agradável com redes e conta com uma cozinha muito bem equipada e com bons utensílios.
Whatsapp Camping do Seu Lourival: (24) 98853-7805
Mas se também preferir uma pousada, eu indico essa bem pé na areia, o Chalé Pedaço de Céu.
Em Pouso jantamos no Jambu Bar. Pedimos um Prato Feito com peixe fresco, um pastel de camarão e tomamos uma cervejinha,
Distância percorrida
Cerca de 12km
Altitude máxima
440m
Dia 3: De Pouso da Cajaíba a Cairuçu das Pedras

Pontos visitados
Seguimos por trilha morro acima até a praia de Martins de Sá, com boa estrutura de camping também. No meio deste caminho tem uma bifurcação que leva à Praia da Sumaca, porém não fizemos. De Martins de Sá, seguimos por uma trilha de mata bem fechada, passando por uma cachoeira bem gostosinha, até Cairuçu das Pedras.
Hospedagem e Alimentação
Em Pouso paramos na mercearia do povoado para comprar mantimentos – atum, miojo, frutas, pão e um croissant fresquinho.
Caminhamos até Cairuçu das Pedras e ficamos no Camping do Seu Aprígio. Que lugar sensacional! Completamente isolado, de frente para a praia e com o amanhecer mais lindo da travessia.
WhatsApp do Camping do Seu Aprígio: (23)99915-7498
À noite pedimos um Prato Feito com peixe, que foi preparado pela Simone, filha do seu Aprígio. Veio muito bem servido.
Distância percorrida
7,6km
Altitude máxima
300m
Dia 4: De Cairuçu das Pedras a Ponta Negra

Pontos visitados
De Cairuçu das Pedras fizemos a trilha mais mata adentro até aqui. Basicamente subimos até o ponto mais alto até aqui, 580 m, e descemos até chegar em Ponta Negra. Porém, antes de chegar aí, paramos para nos banhar em um rio e recarregar as energias em uma deliciosa água cristalina.
Hospedagem e Alimentação
Pela manhã, tomamos café da manhã servido no camping de Cairuçu das Pedras – pães, ovos, café e bolo quentinho de banana.
Na chegada a Ponta Negra, paramos para tomar um suco na Padoca da Vila e ali tivemos a recomendação de uma suíte recém feita para alugar na casa de uma família caiçara – fomos os primeiros hóspedes! O quarto era uma graça, contava com ventilador, banheiro privado e rede na varanda.
WhatsApp da Júlia (que aluga a suíte): (24) 99917-1922
Também há outras opções de pousada, caso não esteja disponível a da Júlia, como o Chalé Trilha Saco Bravo, ou esse outro, Chalé Pé na Areia.
Em Ponta Negra tomamos um açaí no Quiosque da Praia e comemos um pastel no Quiosque Família Trindade (o mais barato da vila).
Distância percorrida
5,6km
Altitude máxima
580m
Dia 5: Trilha para a Cachoeira do Saco Bravo

Pontos visitados
Tiramos o dia para fazer a trilha até a Cachoeira do Saco Bravo – que deságua de frente para o mar! Essa é uma trilha que é obrigatório fazer com guia, e recomendo, pois é bem difícil e fácil de se perder (deixo um contato abaixo).
Guia Nael: (24)99949-4994
Hospedagem e Alimentação
Dormimos duas noites em Ponta Negra na suíte da Júlia para somente fazer o bate-volta até a cachoeira.
Lanchamos uma tapioca com café na Padoca da Vila e depois “almo-jantamos” no Empório de Ponta. Nesse dia já sentíamos como se a Travessia da Juatinga tivesse terminado! Tomamos cerveja, cachaça Gabriela e até um drink local chamado Jorge Amado. Foi um fim de tarde gostoso de frente para o mar descansando para encarar o último dia de trilha.
Distância percorrida
6,8km
Altitude máxima
240m
Dia 6: Retorno para Paraty

Pontos visitados
Saindo de Ponta Negra, passamos pelas praias de Antiguinhos, Antigos e Sono. Ainda que a Praia do Sono seja uma das mais famosas de Paraty, conhecida por sua beleza única e energia relaxante, ainda sim é muito preservada. A comunidade local tem uma forte presença caiçara e oferece hospedagem em campings e pequenas pousadas.
Daí, pegamos trilha até a Vila Oratório, onde finalizamos nossa travessia.
Alimentação
Tomamos café da manhã na Padoca da Vila, em Ponta Negra, antes de iniciar a caminhada (perceberam que amamos essa padaria, né? Tudo delicioso e ótimos preços!).
Depois, no Sono, paramos em uma lanchonete onde comemos um bolinho de aipim frito, um pão na chapa com queijo e ovo e um bolo de cenoura. O Sono tem boa infraestrutura e é um povoado maior.
Nos não dormimos, porém se você tiver mais tempo, indico muito passar uma noite na praia do Sono. Ela além de ser linda, tem uma comunidade grande, cheia de oportunidades de conhecer o cotidiano dos caiçaras.
Assim, deixo duas dicas de pousadas com preços bons. A Cabana Vila do Teteco com um visual super aconchegante e na beira da praia, e o Chalé Som da Cachoeira, que é bem completinho e perto da cachoeira.
Logística
Em Vila Oratório pegamos um ônibus até Paraty, e de lá uma mini van até Paraty Mirim – onde deixamos o carro estacionado.
Distância percorrida
7,8km
Altitude máxima
140m
Quanto custa fazer a Travessia da Juatinga?
Durante a travessia, anotei todos os nossos gastos com hospedagem, alimentação, logística e guia.
Na planilha abaixo, você pode ver os custos individualizados e quanto custou por pessoa fazer a Travessia da Juatinga.

O que Levar na Mochila para a Travessia da Juatinga
Para garantir uma travessia segura e confortável, aqui está uma lista essencial do que levar:
Equipamentos
- Mochila de trekking (levei uma de 50L)
- Barraca leve e compacta
- Saco de dormir apropriado para temperaturas da época da sua viagem
- Isolante térmico (caso seja inverno)
- Colchão inflável
- Lanterna com pilhas extras
- Bastões de caminhada (opcional, mas ajudam bastante)
Roupas
- Roupas leves e de secagem rápida
- Capa de chuva
- Agasalho leve para as noites frias
- Boné ou chapéu
- Meias confortáveis
- Roupa de banho
Alimentação e Hidratação
- Cantil ou garrafa de água (2L ou mais)
- Garrafa com filtro (eu uso a da Lifestaw) ou pastilhas purificadoras de água
- Barras de cereais e frutas secas
- Alimentos leves e de fácil preparo (miojo, paçoca, biscoito, enlatados). Dica: chocolates derretem no calor! Melhor evitar!
Itens Pessoais
- Protetor solar e repelente
- Produtos de higiene pessoal (como lenços umedecidos, escova e pasta de dente)
- Dinheiro em espécie
- Câmera fotográfica
- Celular com mapa offline
Vale a pena fazer seguro?
Antes de mais nada, se você vai se aventurar na Travessia da Juatinga, em Paraty, anote essa dica essencial: contrate um seguro viagem, mesmo em roteiros dentro do Brasil. A princípio, pode parecer um detalhe extra, mas, acima de tudo, é o que garante sua segurança e tranquilidade na trilha.
Por isso, recomendo a Real Seguros, parceira de confiança com planos acessíveis — perfeitos para trilhas e viagens de ecoturismo. Além disso, a contratação é 100% online, rápida e prática, de modo que você resolve tudo em poucos minutos.
Ainda que muita gente ache que seguro é só para viagens internacionais, não é bem assim. No Brasil, ele cobre acidentes em trilhas, despesas médicas, extravio de bagagem, entre outros imprevistos. Com toda a certeza, ninguém quer passar por isso em meio à mata atlântica.
Em outras palavras, vale muito incluir o seguro no seu planejamento. Devido ao tipo de percurso, com trechos longos e áreas remotas, é sempre melhor estar prevenido.
Em resumo, com o intuito de viver a travessia com mais leveza e segurança, contrate um seguro viagem. É simples e faz toda a diferença!
Turismo de Base Comunitária na Península da Juatinga

A região abriga diversas comunidades caiçaras que promovem o Turismo de Base Comunitária, oferecendo hospedagem, alimentação e passeios guiados. Além disso fortalecer a economia local, também garante uma experiência mais autêntica aos viajantes. Saiba mais sobre essa iniciativa no artigo do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina: Turismo de Base Comunitária.
Já a Roteiro Caiçara tem um site bem bacana, onde você contrata guias caiçaras e pode personalizar o seu roteiro com experiências tais como por exemplo: contação de história, oficinas de rede de pesca, observação de aves, casa de farinha, culinária caiçara, entre outras.
Também há a Paraty Viagens, que é de uma família caiçara de condutores ambientais credenciados pelo INEA. Além de oferecem Airbnb em Ponta Negra, também têm guia para a Cachoeira do Saco Bravo, entre outras experiências
E por fim, recebi também a indicação de que a Rede Nhandereko, formada por caiçaras, indígenas e quilombolas, oferece um roteiro na Praia do Sono, que pareceu bem interessante.
A Travessia da Juatinga é uma experiência única para quem busca aventura, que oferece contato com a natureza além de uma imersão na cultura caiçara. Por isso, se você quer explorar essa região de forma consciente, apoie o Turismo de Base Comunitária e descubra um Brasil autêntico e preservado!
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