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Diários da Pandemia: Vietnã, o país sem mortes por Covid-19

Vietnã - Diários da Pandemia

Diários da Pandemia: Vietnã, o país sem mortes por Covid-19

Esse é o segundo artigo da série Diários da Pandemia e hoje o Renato nos conta como está o Vietnã. Você sabia que esse país teve conduta exemplar no combate ao Covid-19? Até o presente momento não houve nenhuma morte por coronavírus no Vietnã, onde desde Abril a vida já voltou ao normal, sem quarentena, e o vírus segue controlado.

Vale ressaltar que o Vietnã tem 95 milhões de habitantes. Alta densidade populacional. Menos de um terço da renda per capita do Brasil. Sistema de saúde precário. E 1.400 km de fronteira com a China – onde começou o surto.

O país comunista testou quase 900 pessoas para cada novo confirmado da doença, a maior taxa de testes por caso confirmado no mundo. Leia mais nesse excelente artigo da BBC.

Quem é o Renato

Meu nome é Renato, sou brasileiro, carioca, tenho 33 anos e estou viajando desde setembro de 2016. Eu trabalho com Turismo, um dos setores mais afetados pela pandemia. Tenho uma agência de experiências que vende passeios no Chile e na Bolívia, a Fui Gostei Trips. Mas por ora todas as atividades que vendemos estão canceladas sem data prevista de reabertura.

Eu me planejei para fazer uma viagem diferente do que estou acostumado a fazer esse ano, onde teria uma agência por trás organizando tudo. Me filiei a um grupo de 42 pessoas de todas as partes do mundo que trabalham remotamente e nossa viagem em conjunto estava programada para durar quatro meses, sendo cada mês em uma cidade diferente. 

Esse era o roteiro previsto para o programa: começar por Hanoi no Vietnã, seguido por Bangkok na Tailândia, Kyoto no Japão e por fim Kuala Lampur na Malásia.

De turista a morador no Vietnã

Essa viagem teve data de início no dia 01/03. Estava apreensivo e levemente preocupado com a questão do novo coronavírus, mas até então não parecia uma grande ameaça. Nessa época já não havia mais máscaras nas farmácias de São Paulo, de onde saiu meu vôo, e a Europa estava começando a ter alguns problemas, mas tudo ainda muito incerto.

Ao chegar a Hanói, capital do Vietnã e minha primeira parada nessa viagem, a preocupação do grupo e da equipe que estava dando suporte para nós não era muito grande. Estávamos tomando todas as precauções necessárias, o uso de máscaras era aconselhável e a higienização das mãos todo o tempo também. 

Mudança de planos

Eu estava com uma parte do grupo original em uma pequena viagem para uma cidade de praia mais ao sul do Vietnã, chamada Hoi An, quando foi declarada a Pandemia pela OMS. Sabendo que estávamos na iminência de ter que ficar por tempo ilimitado presos dentro de casa, optamos por voltar à capital somente para buscar as malas. No mesmo dia já estávamos em Hoi An novamente. 

https://www.instagram.com/p/CAVb89CJSj-/

Hanoi é uma cidade grande, caótica, apartamentos pequenos e em Hoi An era possível alugar uma boa casa com piscina e espaço suficiente para passarmos esse período com tranquilidade. Essa não foi a decisão da maior parte do grupo de 42 pessoas, que num ato que considero impulsivo decidiram retornar para os seus países de origem logo após o programa que estávamos fazendo ter sido decretado cancelado ou adiado por tempo indeterminado. Vale mencionar ainda que a grande maioria do grupo era de norte-americanos e a situação lá já estava muito pior que no Vietnã, muito mesmo. Quase todos que decidiram voltar para seus países se arrependeram depois.

Em Hoi An conseguimos uma casa maravilhosa por um preço quase inacreditável, já que não havia turistas na cidade. Quartos espaçosos estilo hotel, uma grande piscina, área de lazer, cowork, churrasqueira e espreguiçadeiras na beira do rio com uma vista de cair o queixo. Durante o dia fazíamos churrasco e aproveitávamos a piscina. Quase não se falava de coronavírus na casa. Sabíamos que estávamos vivendo praticamente um conto de fadas, visto a situação de todos que estavam em outras partes do mundo.

O combate ao Covid-19 no Vietnã

Me surpreendi muito com a organização da cidade de Hanói. Quando cheguei, no início de Março, havia máscaras em grande quantidade a preços bastante baixos, todos os estabelecimentos colocavam um vidro de álcool em gel na entrada e o distanciamento social era respeitado com muita normalidade nas ruas, até por conta da cultura local. 

E, mesmo antes do Covid-19 ser declarado mundialmente como uma pandemia, o Vietnã já havia fechado a fronteira para a maioria dos países. Foi decretado quarentena na maior parte das cidades vietnamitas, o uso de máscara passou a ser obrigatório, a fronteira se manteve fechada e o teste foi declarado compulsório para todos. 

Teste obrigatório para todos

E enquanto isso o governo do Vietnã fazia um trabalho impecável, com forte controle das pessoas na rua e, como mencionei acima, o teste do Covid-19 era obrigatório. Por medo de ser diagnosticado com a doença, eu e meus amigos optamos por adiar o máximo possível o teste. O receio era de que o governo obrigasse a gente a ir algum local de quarentena militar, aqueles pátios com centenas de camas, e assim perder o conforto que estávamos tendo no momento.

Mas não demorou muito até que alguns oficiais do exército fossem até nossa casa e educadamente nos acompanhassem até o local onde estavam fazendo os testes na região. Fizemos o teste gratuito e em um dia saiu o resultado – e para nossa alegria não estávamos contaminados.

Controle rigoroso e quarentena breve

Já haviam se passado duas semanas, o mês de Abril estava pra começar, e a situação mundial só piorava. No entanto, apesar de no Vietnã a situação se mostrar estável à época, o governo apertava cada vez mais as restrições. Havia policiamento militar em cada esquina e viajar mesmo entre cidades próximas era extremamente difícil.

Uma semana mais, e quase que por mágica, foi confirmado que não havia nenhum caso de coronavírus na cidade onde eu estava. E as outras regiões estavam em situação de controle e estáveis. O governo começou então a flexibilizar o confinamento e dia 23/4 decretou o fim da quarentena. Em questão de poucos dias todo o comércio estava aberto. Praias, bares, casas noturnas, tudo.

Desde então vivemos uma vida completamente normal no Vietnã. Sem necessidade de distanciamento social, uso de máscaras ou higienização frequente das mãos com álcool em gel. O governo flexibilizou a extensão do meu visto de turista devido à pandemia. Portanto, nas próximas semanas planejo viajar por todo o país, com intuito de descobrir tudo de maravilhoso que me aguarda. Acredito que será uma viagem solitária e extremamente barata, já que quase não existem turistas no país agora.

Coronavírus no Vietnã hoje

Hoje, dia 29/06, o Vietnã tem 353 casos confirmados de infectados, 330 dos quais já foram recuperados, e um total de zero mortes. Isso dá apenas 4 casos de infecção para cada milhão de pessoas e não houve nenhum caso novo de contágio interno no mês de Junho. Os poucos novos casos são de pessoas que chegam de fora do país em caráter de exceção.

Acompanho a preocupação de toda minha família e amigos que estão neste momento vivendo um cenário extremamente desagradável no Brasil. Deixo meus sentimentos a todas as famílias que estão perdendo entes queridos e meu repúdio ao descaso, desorganização, descoesão e irresponsabilidade dos nossos governantes. Espero que possamos passar por esse momento o quanto antes e que após tudo isso nos recuperemos com muita força e rapidez. Não percamos a esperança, a humanidade já passou por coisas piores e ainda estamos aqui, não é verdade?

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