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Diários da Pandemia: Chile, o relato do Leo

Eu tinha passagem aérea agendada para voltar para o Chile em Março desse ano, mas não pude ir por causa da pandemia que atropelou os planos do mundo todo. No meio disso tudo, acabei ficando presa no Brasil. E por isso convidei o Leo para vir contar aqui no blog um relato completo de como está o combate ao coronavírus no Chile.

É que por lá a coisa anda complicada diante de números que não cedem e medidas que não têm surtido muito efeito para diminuir os contágios, especialmente na capital, Santiago, que concentra mais de 80% dos contágios. Para piorar, o Chile estava no meio de uma forte onda de protestos contra o governo quando foi decretada a pandemia.

Esse é o oitavo artigo da série Diários da Pandemia.

Quem é o Leo

Meu nome completo é Leonardo Rafael Dias, por praticidade todos me chamam de Leo. Tenho 29 anos sou brasileiro e vivo há 4 anos no Chile, atualmente morando em Santiago. Antes da pandemia, trabalhava com Turismo. Atualmente trabalho como Freelancer fazendo edição de vídeo e fotos.

A quarentena no Chile

O Chile estava sofrendo uma onda de protestos contra o atual presidente desde 18 de Outubro de 2019, então veio a notícia do Coronavírus, e o governo já estava lutando para manter a imagem e a economia do país antes mesmo da pandemia. Com um certo atraso, o governo decretou “estado de exepción” no dia 18/03.

Entenda os protestos que chegaram a levar um milhão de pessoas para as ruas recentemente no Chile

As aulas foram suspensas e houve toque de recolher, com o exército nas ruas das 22h às 5h diariamente. Quanto ao comércio, é permitido que farmácias, supermercados, bancos, postos de saúde, e locais que vendem bebida alcoólica e/ou comida abram (mas apenas para levar, não se pode consumir no local). Os preços no supermercado permaneceram iguais, e percebi até mesmo uma leve diminuída nos valores de alguns produtos. E o transporte público segue funcionando, inclusive o metrô.

Esse artigo do UOL explica o esquema de quarentena obrigatória rotativa adotado em meados de Abril no Chile

Aqui em Santiago é permitido sair na rua apenas para serviços básicos, como para comprar medicamentos e/ou comida e levar o cachorro para passear. Cada permissão tem suas próprias regras – quantos dias por semana, quantas horas por dia e qual a distância permitida. Para passear com o cachorro, por exemplo, você pode no máximo andar na mesma quadra do seu endereço por 1 hora. Para compras, são 3 horas, e assim por diante. Essas permissões podem ser conseguidas facilmente pela internet, e devem ser mostradas caso você seja parado por policiais ou militares.

Covid-19 chile

Efeitos da crise provocada pela pandemia

Acredito que o que mais impressiona, para quem mora aqui em Santiago, é o aumento significativo de moradores de rua, com muitas barracas nos parques e na beira do rio Mapocho. Tenho visto pouquíssimo policiamento nas ruas, o que consequentemente traz uma certa insegurança.

Na prática, como quase não há policiamento, as tais permissões para sair são praticamente inúteis. Mas, mesmo assim, as ruas estão bem vazias.

Relaxamento das medidas de isolamento

O presidente tentou aliviar a quarentena em Abril, permitindo a reabertura de alguns locais como shoppings, por exemplo. Porém, com isso houve o retorno das ondas de protestos, fazendo com que o governo voltasse atrás nessa decisão logo depois.

Esse artigo do El Pais comenta a volta dos protestos e descreve a situação econômica e de desigualdades sociais no Chile

E, segundo especialistas, esse foi um grande erro, pois levou a uma explosão nos casos de coronavírus e fez com que o Chile se tornasse o país com mais contagiados por milhão de habitantes da América Latina. Hoje, esse número é mais que o dobro do que temos no Brasil.

Turismo no Chile

Com o decreto de “estado de exepción”, foram fechadas as fronteiras, somente permitindo a entrada de quem tivesse documentação chilena. A saída do país era e ainda é permitida.

Caso alguém que esteja no Chile queira viajar para outra região do país, são necessárias duas permissões. Uma é para o toque de recolher e a outra para viajar longas distâncias, no entanto para essa última é obrigatório ter um comprovante de residência em mãos.

O que eu sinto com tudo isso?

Estou tranquilo na medida do possível, com algumas leves crises de ansiedade. Trato essas crises olhando para a Cordilheira dos Andes branquinha refletindo a luz da lua minguante, sabendo que a natureza está lá, se recuperando. Esperando para ser apreciada de pertinho por nós outra vez.

Escrevo esse texto em um quarto banhado pela luz de cabeceira amarelada, faz sete graus centígrados lá fora, é madrugada do dia 7 de Julio de 2020.

Coronavírus no Chile hoje

Hoje, dia 08/07, o Chile tem 301.019 casos confirmados de Covid-19, dos quais 268.245 estão curados, e 6.434 mortes. No entanto, segundo matéria divulgada essa semana na Isto É, as mortes por coronavírus no país podem passar de 10 mil numa contagem que considera 3.102 mortes “prováveis” da pandemia, seguindo os critérios recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Entenda a proposta da série de artigos Diários da Pandemia

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