Montevidéu, Uruguai: onde ficar, o que fazer, quando ir
Carla Boechat
É bem verdade que ficar uma semana inteira em Montevidéu, capital do Uruguai, pode ser um exagero. Em três dias consegui conhecer bem a cidade sem muita correria nem deixando algo importante de fora. Mas, por exemplo, se você pensa em fazer uma viagem com foco em vinícolas, pode querer esticar sua estadia a fim de incluir também uns passeios básicos no seu roteiro. É que o Uruguai vem se destacando por suas uvas e esta pode ser uma experiência bem interessante.
Perto de Montevidéu estão a Bouza Bodega Boutique, vinícola lindíssima que conheci esse ano, e também as Juanicó e H. Stagnari, que ficam no município vizinho Canelones, entre outras. Dá para ser beeeem feliz numa viagem com este foco, visitando com calma uma vinícola por dia – eu, particularmente, adoro viagens assim. Para completar a experiência, Montevidéu conta ainda com o único hotel de vinho do país, o My Suites, onde também me hospedei e que oferece degustação de vinhos nacionais quase todas as noites. O atendimento lá é de primeira.
No entanto, se sua intenção é explorar os pontos turísticos básicos da cidade, reúno aqui algumas dicas sobre onde ficar, o que fazer, onde comer, como se locomover, dica de câmbio, tudo com base no que fiz na cidade.
Para pesquisar hotéis em Montevidéu, clique aqui.
Onde se hospedar em Montevidéu
Em Montevidéu me hospedei em dois hotéis: o My Suites, o único hotel de vinho do Uruguai, que fica em Pocitos (você poder ler sobre minha experiência aqui), e o Intercity Premium, que fica em Punta Carretas e é de uma rede brasileira de hotéis. Pocitos e Punta Carretas são, para mim, os bairros mais charmosos de Montevidéu. Seria como comparar, a grosso modo, a Ipanema e Leblon no Rio de Janeiro. Muita gente também se hospeda no Centro Histórico, onde há hotéis mais em conta e pela proximidade de museus e do Mercado del Puerto. Mas é preciso estar atento à noite, quando o movimento nas ruas cai.
A primeira coisa que me chamou atenção no Intercity foi o tamanho dos quartos. Além de tudo ser novíssimo, o quarto era espaçoso, com uma cama king size, um bom armário, ótima bancada, janela com vista para a cidade. O banheiro também era bom, mas achei desproporcional ao tamanho do quarto, pois ele era bem compacto.
A localização do Intercity é muito boa. Fui andando para o Punta Carretas Shopping, para Pocitos, para diversos restaurantes muito bons, para a Rambla e dali também peguei ônibus que levavam ao centro histórico ou à Feria Narvaja Tristán, por exemplo. Me senti muito bem atendida.
O Intercity conta também com um ótimo café-da-manhã e um restaurante no primeiro andar. Minha experiência ao jantar no restaurante foi péssima. Acabei jantando lá num dia em que estava chovendo muito e ele estava cheio. O atendimento foi horroroso por parte das garçonetes, que eram muito mal educadas e não sabiam explicar como era cada prato. Além disso meu pedido não veio completo, enfim, foi bastante estressante. Não sei se é porque o restaurante estava cheio, mas minha opinião é que o mínimo é o estabelecimento conseguir atender bem o restaurante em sua capacidade máxima – senão deveriam diminuir o número de mesas. Pela experiência bem ruim, aconselho ir andando aos muitos bons restaurantes que ficam ali perto. As opções são bem variadas e de alto nível.
Na cobertura estão ainda um ofurô com vista para a cidade, e a Rambla, além de uma academia e uma sauna. No geral, o atendimento no Intercity foi muito bom e eu voltaria a me hospedar lá – a estrutura do hotel em si realmente me agradou. Na recepção ficam balinhas e águas aromatizadas à disposição do hóspede, uma atenção legal por parte deles.
Pontos de atenção:
– como já mencionei, o atendimento no restaurante foi péssimo e meu pedido veio incompleto. Eles precisam urgentemente treinar melhor as garçonetes.
– algumas tomadas do meu quarto não estavam funcionando.
– o banheiro é pequeno em comparação à grandiosidade do quarto.
Para fazer sua reserva no Intercity Premium, clique aqui.
O que fazer em Montevidéu
O Centro Histórico é o básico dos básicos. Eu havia lido no Viaje na Viagem que no sábado à tarde e no domingo o centro ficaria mais vazio, mas, como era o que dava para fazer, me joguei para lá no sábado mesmo (depois de uma passada no Parque Rodó, que conto mais abaixo). Olha, eu vi um centro bem movimentado e me senti segura para andar por aquela região ali – mas é claro que se deve ter alguma atenção e evitar estender-se até de noite, principalmente se estiver sozinho. Eu fui no ônibus 117, que peguei em frente mesmo ao Parque Rodó, na Boulevard General Artigas, e desci em frente à Plaza Independéncia, que fica coladinha no Teatro Solís. A passagem custa por volta de 30 pesos uruguaios. Um detalhe: não deixe de pegar o comprovante de pagamento da passagem com o motorista, pois costuma haver fiscalização nos ônibus e você precisará apresentar o seu.
Primeira dica importante para um tour pelo Centro Histórico: verifique o horário certinho das visitas guiadas no Teatro Solís, que é lindo e um must go na cidade. Infelizmente no dia em que fui estava programada uma peça de teatro no Solís e foram canceladas as visitas da parte da tarde. Então só pude conhecer o café Allegro, que fica lá dentro, a lojinha do teatro e uns andares mais comuns, que não tinham muitos atrativos. A visita guiada custa 20 dólares. Confira os horários no site e confirme sempre se a última visita do dia está confirmada, em especial aos sábados.
Após a tentativa frustrada do Solís, fui andando para o Museo Andes 1972. Já havia lido sobre ele no blog Viver Uruguay e fiquei realmente curiosa para conhecê-lo. Este museu conta a história do acidente de avião onde estavam jogadores de rugby, com seus amigos e familiares, que caiu na Cordilheira dos Andes em 1972, culminando na morte de 29 pessoas. Os sobreviventes desta tragédia ficaram incomunicáveis a 4 mil metros de altitude, sem comida, sem roupas de frio em meio à neve e temperaturas abaixo dos -30 graus durante 72 intermináveis dias. Dezesseis pessoas sobreviveram a este acidente e são um exemplo de superação. Eu tive a sorte de ser recebida no museu por seu atencioso dono, o Jorg, que era vizinho e amigo íntimo dos jogadores e que construiu este museu como uma forma de mostrar a força, a solidariedade, o trabalho em equipe e a superação dos sobreviventes.
Foi tocante estar ali, emocionante ler as cartas de alguns jogadores, escritas ainda quando estavam isolados nas montanhas. Sua vontade de viver e seu positivismo eram incríveis. Uma das cartas de um jogador à sua amada dizia: “Te quiero mi vida, te quiero, te preciso, negra de mi alma. Fuerza que la vida es dura, aunque merezca ser vivida, aún el sufrimiento. VALOR…”.
Em outra carta de um dos acidentados à sua família se lia: “Queridos viejos, les estoy escribiendo a 8 dias de haberse caído el avión. Estamos en un lugar divino, todo cerrado por montaña y con un lago el fondo (…) Estamos muy bien, somos en el momento 26 vivos, hoy murió la hermana de Nando Parrado, la moral existente es increíble y hay colaboración permanente entre todos. Roy, Diego, Roberto, Carlitos y yo estamos perfectamente bien solo que un poco más flacos y barbudos. El domingo pasaron por arriba nuestro 2 aviones 2 veces cada uno por lo que estamos muy tranquilos y lo que es más convencidos de que nos van a venir a buscar. Lo único que nos hace dudar un poco es que como el avión se desvió de la ruta quién sabe todavía no nos vieron…”.
E depois desta mensagem, ainda se passaram mais 64 dias de luta pela vida. É incrível a vontade de viver que se percebe nesta última carta. Em meio a um grave acidente em que houve diversas mortes, sem ter o que comer ou onde dormir, o sobrevivente escrevia para elogiar a beleza do lugar em que se encontrava, talvez numa forma de tranquilizar a si próprio sobre uma possível sobrevivência. Tudo isso nos faz refletir sobre nossa rotina confortável, nossos valores e princípios. Ao meu lado vi pessoas chorando ao conhecerem melhor a história deste acidente. O museu é pequeno e recente, mas guardado com muito cuidado e carinho. Quem puder, vá. É super tranquilo fazer o combo Teatro Solís + Museo Andes 1972 – apenas três minutinhos de caminhada separam ambos.
Quem quiser se aprofundar mais nesta história, pode assistir o filme Vivos! ou ler alguns dos muitos livros com relatos, como o Sociedad de la Nieve. O Museo Andes 1972 fica na Calle Rincón, 619, funciona de segunda a sexta de 10h às 17h e aos sábados de 10h às 15h, e sua entrada custa 200 pesos.
No caminho entre os dois museus está o Café Bacacay, com vista para o Solís e ótimo para uma paradinha estratégica e para provar suas delícias. Logo abaixo vou falar mais sobre ele.
Antes de ir para o Centro Histórico, havia separado minha manhã de sábado para curtir o Parque Rodó, sobre o qual já havia lido diversos elogios. No entanto confesso que não achei nada demais lá. Vi um parque grande, porém não tão bem cuidado (vi sujeira pelo gramado, grama queimada…). Legal para uma caminhadinha, passeio com cachorros ou crianças, porém sem muitos atrativos. Até mesmo o Museo Nacional de Artes Visuales, que fica ali no parque, estava fechado, o que achei incongruente para um sábado de manhã, dia em que os turistas estão em polvorosa. Depois, ao conferir no site, vi que o horário de funcionamento é de terça a domingo, das 14h às 19h. No site também há informações sobre os dias em que o museu está fechado para feriados, bem como linhas de ônibus que levam até lá. Se quiser ir conhecer rapidinho, pode ser interessante, mas eu não reservaria muito do meu tempo ao Parque Rodó não.
Quem gosta de compras pode também se jogar no Punta Carretas Shopping. Ali funcionava uma antiga penitenciária e hoje abriga um prédio muito bonito e com diversas lojas nacionais e internacionais. Particularmente gostei bastante da grife uruguaia Daniel Cassin, de moda feminina descolada e com preços ótimos (não eram pechinchas, mas valia muito mais que os atuais preços abusivos brasileiros). Ali também fica uma casa de câmbio, no primeiro andar, com cotação ok. Não vi muita variação nas casas de câmbio do Uruguai.
Ali pertinho está a Rambla de Montevidéu, que tem mais de 22 km de extensão e que incluí como roteiro obrigatório da cidade. Sério, o por-do-sol ali é incrível, inesquecível, incomparável. Talvez o mais lindo que já presenciei. Uma curiosidade: esta imensidão de água que se vê nas fotos não é mar, mas sim o Rio de La Plata, enorme e imponente. Você pode alugar uma bike para dar um passeio pelo calçadão, caminhar, estacionar seu carro de frente para o espetáculo da natureza ou mesmo só se sentar em alguma muretinha ali – foi o que eu fiz. Mas vá, sem desculpas ou enrolo para não perder a hora.
Por fim, um ponto não apenas turístico, mas também muito frequentado pelos próprios moradores, é a Feria Narvaja Tristán. Ela é enorme! São quinquilharias, antiguidades, frutas, queijos, ervas, temperos, livros, roupas usadas. De quase tudo se vê ali. Mas o que chamou a atenção mesmo foi o tradicional mate embaixo do braço de 9 de cada 10 uruguaios presentes à feira. Foi irresistível fotografar vários. Fui no ônibus 116 para a feira, saindo de perto do meu hotel, o Intercity Premium. Pedi para me deixarem perto da feira, e dali andei uns 5 a 10 minutinhos. Passei por umas ruas mais vazias, mas não demorou para que começasse a ver o movimento de gente.
Agora, para provar que não estou exagerando quando digo que 9 em cada 10 uruguaios sai de casa com sua cuia de mate para dar um rolé na Tristan Narvaja, dê uma olhadinha nessas fotos 😉
O que e onde comer em Montevidéu
O primeiro point gastronômico e turístico mais lembrado de Montevidéu é o Mercado del Puerto, sem dúvidas. Ali você poderá se acabar no famoso churrasco uruguaio apreciando um vinho ou a Patrícia, a cerveja nacional. Eu fui num domingo e, como cheguei cedo, por volta de meio dia, foi bem tranquilo conseguir mesa. Ali há diversos restaurantes e acabei optando pelo mais conhecido, o El Palenque.
Você pode sentar nas mesinhas do lado de fora ou no balcão, onde dá para acompanhar as parrillas sendo preparadas. A carne ali realmente é deliciosa! Porém meu prato não veio muito bonito não, com meia dúzia de batata frita murcha. Pode ter sido falta de sorte minha, mas é por isso que não gosto de lugares turísticos demais. No entanto, aos apreciadores de uma boa carne vermelha, saiba que a fama ali é grande. Eu, que não sou muito chegada, achei muito saborosa e macia. Dependendo da sua fome, dá para dividir alguns pratos.
Ainda no Centro Histórico, comentei mais acima que fiz um lanche delicioso no Café Bacacay, em frente ao Teatro Solís. Os sanduíches são muito bons e as tortas, então, nem se fala! Experimente a torta de maçã com sorvete. Dos deuses. Sem falar na vista para o teatro. Um privilégio. Ele fica na Calle Bacacay, 1306.
Já em Punta Carretas, flanando pelas ruas em busca de um lugar mais característico e menos conhecido, encontrei o restaurante Ricci. E me encantei! A princípio ele parece bem pequeno, mas engana, pois possui um segundo andar muito fofo com uma adega ótima. Fui muito bem atendida ali pela Alejandra. Todo o ambiente era um charme e a música ambiente muito gostosa! Comi um coelho delicioso e ainda uma sobremesa sensacional de chocolate belga com sorvete de framboesa e creme de licor Baileys. O Ricci fica na Calle Joaquím Nuñez, em frente a um mexicano super fofo e a uma pizzaria descolada.
Outra opção para o jantar é o My Wine, que fica no hotel My Suites, em Pocitos, e que já contei sobre ele aqui. Além de poder agendar uma degustação de vinhos uruguaios, eles têm boas opções de massas.
Por fim, o conceituado restaurante da Bodega Bouza, um pouco mais distante, é outra super indicação. Falo sobre ele aqui. A comida é maravilhosa, a sobremesa é de enlouquecer, o ambiente é encantador, atendimento nota 1000 e vinhos sensacionais. Vale a pena a meia horinha de carro para chegar lá.
Dica final: se estiver na dúvida de onde ir comer, consulte o Salir a comer, guia com restaurantes uruguaios com resenhas dos leitores!
Quando viajar para Montevidéu
Estive em Montevidéu durante a Primavera e achei o clima ameno e ótimo para curtir os passeios sem passar calor e com um friozinho leve. Me disseram que no Outono é bem parecido. Eu gosto bastante de meias estações.
No verão, a badalação está em Punta del Este e San Ignacio, ambos no balneário uruguaio. Mas Montevidéu também se agita em janeiro e fevereiro com as “entradas”, um esquenta de carnaval com muito candombe (ritmo local). Atenção a um detalhe: o carnaval de lá acaba uma semana antes do nosso e, na semana oficial da folia de lá, os moradores da cidade viajam e muitas lojas e restaurantes fecham. Também é a época em que as vinícolas estarão com seus parreiras cheios, prontos para a colheita, formando um cenário muito bonito.
Já no inverno, o frio se faz presente e a temperatura mínima fica, em geral, abaixo dos 10 graus.
Câmbio em Montevidéu: onde trocar dinheiro
O peso uruguaio é bem estável e não há grande diferença entre as casas de câmbio. Levei reais e efetuei a troca lá. Fazendo as contas, não havia grande diferença para a troca de dólar por peso, ainda mais ao se considerar o câmbio duplo onde se perde dinheiro duas vezes (real -> dólar -> peso uruguaio).
Uma dica importante é que vale a pena pagar restaurantes com cartão de crédito internacional, pois o governo devolve automaticamente os 18,5% do IVA uruguaio, e isso acaba compensando o IOF brasileiro, cobrado nesse tipo de transação. Essa regra vale também para algumas lojas. Pergunte sempre. Efetuei meus pagamentos com cartão de crédito e na própria notinha já vinha a informação do quanto seria estornado na minha conta. Minha fatura já chegou e não houve surpresas, está tudo lá devolvido direitinho.
Chegou até aqui? As dicas que compartilhei foram úteis para você? Esse conteúdo foi produzido sem patrocínios, com investimento do meu bolso, e trago gratuitamente para ajudar na sua viagem. Se você curtiu o meu trabalho e gostaria de colaborar para que eu possa continuar produzindo artigos completos e úteis como esse, deixo minha chave pix para você ficar à vontade em contribuir voluntariamente com o valor que quiser. Apoie produtores independentes! Obrigada pelo carinho de sempre.