Mochilão na Bolívia – um país lindo, muuuuito barato e surpreendente
Carla Boechat
Esse mês eu passei 18 dias viajando pela Bolívia sem planejamento algum. Era época de chuva, o que atrapalhou um pouco, mas ainda assim conheci lugares incríveis lá. Antes de ir, muita gente vinha me dizer que a Bolívia era perigosa e que eu deveria tomar muito cuidado. Mas, ao menos nos lugares por onde passei, eu achei bastaaaante tranquilo (morei 12 anos no Rio de Janeiro, né, gente!).
No roteiro teve muitos dias em La Paz, a temida Estrada da Morte em bicicleta, o inesquecível Salar de Uyuni, a maravilhosa Isla del Sol com seu imponente Lago Titicaca (e também dois dias de dor de barriga lá, porque, afinal né migs, Bolívia é Bolívia), o tradicional carnaval de Oruro, a entrada da Amazônia boliviana em Coroico, o Trem da Morte até a fronteira com Brasil, três horas em pé no sol na fila de imigração pra voltar pra casa. A Bolívia é assim.
Você atravessa a fronteira desde o Chile e já se depara com uma lagoa mais maravilhosa que a outra. Dorme num alojamento em quarto compartilhado, sem luz elétrica, sem água quente, e acorda pra conhecer, ops, o MAIOR deserto de sal do mundo. Não, você não tá entendendo. Quando eu falo que eu fui conhecer o maior deserto de sal do mundo, eu tô falando de simplesmente 10.582 quilômetros quadrados de branquidão a uma altitude de 3.656 metros acima do nível do mar! A parada é um absurdo. Você fica bobo de ver, vira criança de novo se jogando no chão pra fazer fotos, quase chora quando vê o pôr do sol ali. Não bastando tudo isso, esse deserto de sal ainda tem uma ilha de pedra com infinitos cactos gigantes e você pode andar em meio a eles. Cara, cê tá conseguindo imaginar a cena? Porque nem ao vivo eu conseguia realizar que era verdade.
Daí, dessa natureza que te deixa tonto, você cai de pára-quedas no centro de La Paz. Como muitos chamam, uma favela gigante! Com fetos de lhama empalhados e espalhados para todos os lados do Mercado das Bruxas. De onde você pega um táxi – com um motorista que está carregando seu cachorro de estimação no colo -, anda uns 20 minutos, e se depara com mansões de cair o queixo, restaurantes tops, carros que, bem diferente, não estão caindo aos pedaços, mas são de luxo. Dali mesmo você entra num teleférico (recomendo demais!) e consegue ver, de lá de cima, esse contraste todo. De camarote – e pagando apenas 3 bolivianos (ou o equivalente a uns R$1,50).
Num outro dia acorda cedinho pra pegar um ônibus pra Copacabana, a fim de conhecer o maior lago da América do Sul, e não só isso, o lago navegável mais alto do mundo (a 3.812 metros acima do nível do mar)! Chegando lá, pega um barco super desconfortável pra atravessar pra Isla del Sol. Mal põe os pés em terra firme, recebe a oferta pra se hospedar numa pousadinha pagando apenas 40 bolivianos (ou uns 20 reais) e decide ali mesmo que vai ficar duas noites naquele lugar que parece que parou no tempo. Porcos e ovelhas na beira da “praia” (o Titicaca é tão grande que parece um mar, e a areia à sua beira te faz jurar que você está numa praia de verdade). Cholitas (mulheres bolivianas que ainda usam vestimentas tradicionais) carregando seus imensos sacos coloridos nas costas. Pequenos restaurantes servindo o mesmíssimo prato pelo mesmíssimo preço: truchas fresquinhas! Você acorda e o único barulho que ouve é de crianças brincando à beira do “porto”.
E em meio a tudo isso é carnaval! Você não resiste, pega mais um ônibus cedinho, o ônibus quebra no meio do caminho à beira de um lixão a céu aberto, você desce, pega carona em outro ônibus lotado, faz amizade com um boliviano, começa a beber cerveja às 9h da manhã e chega a Oruro – onde há a festa de carnaval mais tradicional de toda a Bolívia! Enquanto todo mundo assiste sentado aos desfiles, você pega sua câmera, aproveita que é gringo (e quase não há estrangeiros ali) e invade os desfiles, dança com eles, todos fazem pose para o vídeo.
Se você achou que teve adrenalina até aqui, ainda não viu o maior desafio de toda a Bolívia: encarar a estrada da morte de bicicleta. São 62km de pura descida em estrada de chão (cheia de pedrinhas!) e à beira de um precipício a 4.700m de altitude. Tensão e emoção pra fazer toda aquela rota – com um pouco de chuva ainda por cima pra dar um tempero (e desespero) a mais.
Ao fim, ao invés de voltar pra La Paz, como todo o resto da excursão, você emenda para Coroico, a cidadezinha mais próxima ao fim da Estrada da Morte. E lá se hospeda em um hostel que traz toda a paz que você precisava depois de tanta aventura. Por dois dias você apenas curte a porta de entrada da Amazônia boliviana. Se enche de repelentes, leva mais de 50 picadas apenas na panturrilha esquerda, se delicia com os crepes e frappés do hostel, joga baralho, ouve música, ouve o vento. É o descanso que o corpo precisava!
Para finalizar, mais de trinta horas cruzando a Bolívia por terra. Primeiro num ônibus cujo conforto coloca muitas companhias brasileiras no chinelo – mas que, como em todos os ônibus que peguei na Bolívia, não tem cinto de segurança! Como questionar isso em plena Bolívia? Depois ainda teve o famoso Trem da Morte. Para mim, um nome que é puro marketing. Mas quem resiste a conhecer uma rota que se chama assim…
Desse jeitinho peculiar e jeitoso foram meus quase 20 dias em solo boliviano. Ainda vou contar aqui o roteiro detalhadinho, com tabela de gastos, do jeitinho que vocês gostam. E também indicar as agências com as quais fechei os passeios. Se tiver qualquer coisa específica que você gostaria de saber sobre esse país lindo, barato e surpreendente, pergunte aqui nos comentários.
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Enquanto isso eu vou, daqui, escrevendo tudinho que acho que vocês precisam saber pra se aventurar pela Bolívia também!
E vocês podem ir passando o tempo lendo mais sobre minhas aventuras pela América do Sul: