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Transiberiana: minha experiência sozinha e dicas importantes dessa rota

Em Junho de 2019 fiz parte da Transiberiana e finalizei com a Transmongoliana, na Rússia. Foi um trajeto de mais de 6.500 km em 5 diferentes trens, onde visitei 6 cidades começando em San Petesburgo e terminando em Ulan Bator, na Mongólia.

Fiz esse trajeto sozinha durante 25 dias e anotei algumas dicas para trazer para vocês! Vou começar explicando melhor como é essa rota, e quais são suas vertentes.

Diferenças entre Transmongoliana, Transiberiana e Transmanchuriana

A ferrovia Transiberiana ou simplesmente Transiberiana é uma rede ferroviária conectando a Rússia Europeia com as províncias do Extremo-Oriente Russo, Mongólia, China e o Mar do Japão. Com 9.289 km, abrangendo oito fusos horários e que leva vários dias para realizar uma viagem completa. É o terceiro mais longo serviço contínuo do mundo, depois dos serviços das linhas Moscovo-Pyongyang (10.267 km) e a Donetsk-Vladivostok (9.903 km).

A gente sempre ouve falar da Transiberiana, mas você sabia que existem essas duas outras vertentes da rota de trens russa? São a Transmongoliana e a Transmanchuriana, que na verdade são uma ramificação da primeira.

A Transmongoliana coincide com a Transiberiana até a cidade de Ulan Ude, de onde atravessa pra Mongólia e depois para a China. Foi esta a rota que eu escolhi porque me permitia, numa só viagem, conhecer mais de um país. Em vez de ter começado em Moscou, acrescentei ainda San Petesburgo ao trajeto. 

Já a Transmanchuriana coincide com a Transiberiana clássica até Chita. Também tem Pequim como destino final, mas não passa pela Mongólia. Veja abaixo um mapa para entender melhor:

Assim fica mais fácil de entender, né?

Assim fica mais fácil de entender, né?

Como você pode ver, são muitas as possibilidades de rotas. Para facilitar, vou me referir ao trajeto no blog apenas como Transiberiana, ok?

Minha rota de trem na Transiberiana

Aqui vou falar não apenas de como dividi o meu roteiro, mas também das principais cidades nessa rota e mudanças que eu faria de acordo com o que vivi e aprendi. Então primeiro você vai ver número de dias que fiquei em cada cidade, e na sequência alguma observação sobre a minha escolha:

• 3 dias em San Petesburgo: mínimo de tempo que recomendo aqui

• 0 dias em Moscou: não visitei dessa vez porque não é minha primeira vez na Rússia, mas se é a sua, recomendo separar uns 3 dias para Moscou

• 3 dias em Kazan: suficiente se você não está com tempo sobrando, mas eu fiquei com vontade de incluir mais um diazinho

• 5 dias em Ecaterimburgo: mais do que o necessário, acredito que 3 dias aqui estaria de bom tamanho

• 0 dias em Novosibirsk: uma das maiores cidades da Rússia, que acabou não entrando no meu roteiro, mas depois me arrependi, não saberia indicar o número de dias por não ter visitado

• 5 dias em Krasnoiraisk: pa

• 6 dias em Irkutsk: mais do que o necessário também, acredito que uns 3 a 4 dias estaria bom, já incluindo à visita ao Lago Baikal (considere um pouco mais se você quiser conhecer Olkhom Island)

• finalizei em Ulan Bator, onde termino a rota de trem e começo minha viagem pela Mongólia

Minhas percepções

Eu fiz essa rota em 22 dias, já contando os dias nas cidades mais os deslocamentos em trem (foram muitas, muitas horas). É possível fazer em umas duas semanas se você estiver com o tempo corrido. No entanto, menos que isso acho que vai ficar muito cansativo e você nem vai conhecer as cidades direito.

Visitei muitas cidades grandes na Rússia, e lá pela terceira ou quarta tudo começa meio a que parecer igual, sabe? Todas cidades muito lindas, mas senti um pouco falta de mais natureza durante minha rota. Então se você você estiver com pouco tempo e não consegui passar por muitas cidades russas, não se torture por isso. Está tudo bem! Eu só não deixaria de passar uns dias de jeito nenhum em San Petesburgo, Moscou, Kazan e Irkutsk.

Como comprar os tickets de trem da Transiberiana?

Você tem basicamente duas opções: comprar pela internet no site oficial da RZD ou direto na estação. Eu fiz um pouco de cada. É muito mais prático comprar pela internet. Vou detalhar o porquê:

• praticamente ninguém fala inglês nas estações, então você vai ter que ficar se virando com o Google Tradutor e nem sempre funciona bem

• na estações sempre tem alguma fila (em San Petesburgo eu cheguei a esperar mais de 80 pessoas na minha frente)

• o site oficial tem uma versão em inglês que facilita bastante a vida

• o site oficial aceita cartão internacional

• você escolhe o vagão e a cama que quer (direto nas estações eles simplesmente colocam você em alguma cama aleatória)

• a única passagem que eu não consegui comprar pelo site foi a última, que atravessava da Rússia para a Mongólia – não sei a razão, então essa tive que comprar direto na estação

Comprar com antecedência ou não?

Eu li muito que durante o Verão era melhor comprar tudo com antecedência. No entanto, viajei no final da Primavera e início do Verão e a verdade é que todos os trajetos eu poderia ter comprado na véspera.

Me planejei antes comprando todos os trens, e para mim não foi a melhor opção, pois a cada vez que você precisa mudar o seu itinerário você não apenas paga uma pequena multa (bem pequena), como tem que comprar um novo ticket e esperar o valor do anterior que foi cancelado ser creditado no seu cartão.

Se a sua viagem é flexível, rola sempre deixar pra comprar durante o trajeto. Você pode baixar o aplicativo da RZD e ir monitorando como estão as passagens.

Importante: quanto antes você compre os tickets, mais baratos eles estarão. Não chega a ser uma diferença exorbitante de preço comprar na véspera, mas não será a opção mais econômica.

Portanto, pese os prós e contras e veja o que funciona melhor para você. 

É perigoso viajar de trem pela Rússia?

Eu sou mulher e fiz essa viagem sozinha, então acredito que a minha experiência seja a mais autêntica possível. Eu me senti absolutamente segura, tanto nos trens, como nas cidades que eu visitei.

Nos trens sempre havia muitas famílias viajando, quase não encontrei turistas (o trem onde havia mais foi o último, de Irkutsk para Ulan Bator). Algumas vezes eu compartilhei minha cabine apenas com homens, e eles sempre foram bastante respeitosos. Houve apenas um no meu último trem que veio com um papo mais mole, e eu já cortei na hora. Depois disso a conversa fluiu normal.

Claro que você deve tomar cuidado com seus objetos de valor, minha mochila com carteira e documentos estava sempre comigo, mesmo quando eu descia em alguma das paradas para comprar comida ou água. Já o restante das minhas coisas, como o meu mochilão, eu sempre deixava na cabine embaixo da minha cama.

Copos da Transiberiana
Olha que lindas as canecas que nos emprestam nos trens da Transiberiana? Amei!

Como são as cabines da segunda classe na Transiberiana?

Eu viajei na segunda classe em todos os trens, então essa é a experiência que vou compartilhar. A segunda classe sempre é em cabine fechada com duas beliches, onde podem dormir até 4 pessoas. Veja a foto de capa desse artigo para ter uma ideia de como são as cabines!

Eu recomendo, se possível, comprar sempre a cama de baixo. Assim você tem espaço pra guardar sua mochila embaixo da cama, pode ficar sentado se quiser, tem maior mobilidade, pode usar a mesinha (sempre há uma mesa entre as duas beliches, muito útil quando você vai comer algo ou até mesmo trabalhar – como eu estou fazendo agora). Ela é um pouco mais cara que a cama de cima.

A roupa de cama oferecida (dois lençóis, uma fronha, uma coberta e uma toalha de rosto) sempre estava impecavelmente limpa. Importante: antes de descer na sua estação final, recolha a roupa de cama que utilizou e entregue para a comissária. Deixe também a cabine o mais organizada possível.

Alguns trens contavam com cabide para pendurar alguma roupa ou casaco. Todas contaram com apoio para pendurar objetos pessoais. Nas camas sempre há abajur individual.

Terceira classe da Transiberiana – update

Na Mongólia conheci uma alemã, a Silky, e ela viajou sozinha na terceira classe da Transiberiana. Me disse que se sentiu bastante segura. A diferença principal da segunda pra terceira é que nessa última todos os compartimentos são abertos (não há cabines fechadas, com portas) e são mais pessoas para usar o mesmo número de banheiros. Ela me cedeu essa foto abaixo pro blog:

Tá com a grana curta? Vai de terceira classe mesmo! Só não deixa de fazer essa viagem na tua vida!

Há tomada nas cabines?

Sei que essa é uma grande preocupação, ainda mais quando você sabe que vai passar horas num trem. A maioria dos trens tem tomada apenas nas áreas comuns, como no corredor ou perto dos banheiros.

Se não havia tomada no quarto, eu só deixava meu celular carregando do lado de fora se fosse perto de mim e com a porta da minha cabine aberta pra de vez em quando eu dar uma olhada. Por mais que os trens sejam seguros, a gente nunca sabe.

Em um dos trens eu demorei a perceber, mas tinha duas entradas USB no alto acima de uma das camas. Fique atento, de repente tá rolando uma eletricidade no seu quarto e você nem sabe!

Como são os banheiros nos trens

Cada vagão conta com dois banheiros, um em cada extremidade. Isso foi o tema mais complicadinho de toda a minha viagem, pois em alguns trens os banheiros não eram tão agradáveis. Às vezes tinham um cheiro ruim, uma vez faltou papel higiênico. Então acho que é uma questão de sorte pegar um banheiro com uma manutenção mais bem feita.

Os banheiros são como os de avião, com a diferença que quando você dá “descarga” abre um buraco e todas as suas necessidades vão para os trilhos de trem. Sim, meio esquisito. O único trem que peguei onde o banheiro feminino era separado do masculino foi o último, de Irkutsk para Ulan Bator. Mas a galera não respeitava tanto.

Tipo de avião mesmo. Esse foi o banheiro mais limpinho de toda a viagem!

Importante: durante as paradas nas estações eles fecham os banheiros, então você só pode usar antes ou depois.

Vendem comida nos trens? O que levar?

Todos os trens que eu peguei vendiam o básico, como água, chocolate, cup noodles, café solúvel. Mas mesmo assim eu sempre trazia minhas próprias coisas, e só comprava se necessário.

Algumas paradas em estações também são um pouco mais demoradas (tipo uns 20 minutos, mas sempre confirme com a comissária), então dá tempo de descer, esticar as pernas, comprar alguma coisa.

O que comer nos trens de longa distância?

Essa foi uma dúvida enorme que fiquei! É verão, não daria pra refrigerar nada, portanto fiquei com medo da comida estragar, e não queria ficar comendo só besteira.

O básico da galera é levar cup noodles, café ou capuccino solúvel, biscoito. Todos os trens sempre fornecem água quente, o que facilita a vida. Meu kit básico sempre é: capuccino solúvel, biscoito de arroz ou pão, queijo tipo Polenguinho, manteiga de amendoim, barrinha de cereal, damasco seco, fruta, chiclete, água. 

E para viagens mais longas eu tentei trazer comidas mais saudáveis pra não ter que viver de miojo, e que eu pudesse comer frias. Num dos dias eu fiz cuscuz com tomate, cenoura e milho. Pra acompanhar trouxe banana (amo banana na comida!) e um desses queijos pra colocar na salada. 

Em outro dia eu preparei champignon refogado, trouxe tomate picado e um desses purês de batata instantâneos (não lembro de ter visto no Brasil, mas aqui rolam uns potinhos individuais com um pó que você mistura com água quente e vira um purê decentezinho).

Comprei também em um mercadinho um “kit transiberiana” (eu inventei esse nome rs), que vinha com 4 pratos, 4 garfos, 4 facas, 4 colheres (tudo de plástico), guardanapo, palito de dente. E comprei um potinho de plástico pra trazer as comidinhas que eu cozinho.

Importante: traga sempre uma sacola pra guardar o seu lixo. Eu também tenho sempre à mão lencinho umedecido.

Como não ficar entediada nas minhas horas de trem? COMENDO! hahaha

O que vestir nos trens?

Isso vai acabar dependendo da época do ano em que você viajar. Eu viajei no verão e li que tinha ar condicionado nos trens, mas eles não funcionavam tão bem. Então em alguns horários do dia realmente fazia calor.

É uma prática comum todo mundo vir com uma roupa, e ao chegar no trem vestir outra mais confortável. Os homens dão licença pras mulheres se vestirem na cabine e vice-versa.

Meu uniforme de trem foi: chinelo, short confortável, blusão largo. 

O que ter na mochila de mão

Na mochila pequena eu sempre tinha escova e pasta de dente, hidratante, lencinho umedecido pro rosto, fone de ouvido, remédios, carregadores, um casaco, livro.

E no celular sempre mais de um filme da Netflix pra assistir offline. Bateria do computador sempre 100% carregada para poder trabalhar um pouco. Pense em coisas que você gosta de fazer e que vão te ajudar a passar o tempo no trem.

Pontualidade nas estações

Sempre (sempre!) chegue nas estações com um mínimo de 30 minutos para o horário do seu trem. Lembre-se que você estará num lugar que não conhece e com pessoas que não falam inglês, apenas russo.

Eu sempre chegava antes, e acabava ficando uns 15 minutos no trem esperando dar a hora de partir. Em um dos dias resolvi chegar com menor antecedência e, de coração, não desejo aquele sufoco pra ninguém! Nesse dia peguei trânsito, o taxista não tinha troco, me perdi dentro da estação, me deram informação errada de pra onde ir. Tudo aconteceu! E eu subi no trem como ele já em movimento pra sair. Em suma, foi uma loucura!

Os trens são pontuais?

Muito! Eles nunca atrasam para sair. E sempre chegam exatamente no horário determinado. O único trem que atrasou um pouco foi o que cruzou a fronteira da Rússia pra Mongólia – pois fronteiras são sempre imprevisíveis mesmo.

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Dúvidas?

Eu tentei reunir aqui as dicas principais que eu gostaria de ter lido antes de começar a minha viagem! Se você tem alguma dica diferente ou se ainda ficou alguma dúvida, então escreve aqui nos comentários e vamos nos ajudar!

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