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Chuva no Deserto do Atacama: o que é o Inverno Altiplânico

A maioria das pessoas elimina a chuva das suas preocupações ao visitar um deserto, principalmente quando este é considerado o mais seco do mundo. Então qual não é a sua surpresa ao ouvir relatos ou testemunhar presencialmente chuvas torrenciais no Atacama?

A gente já tinha abordado o tema ao falar sobre a melhor época para visitar o Deserto do Atacama, mas diante das fortes tempestades deste ano e das suas consequências para o turismo na região, resolvemos explicar o fenômeno mais detalhadamente.

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Primeiro é preciso entender que o Deserto do Atacama corresponde a uma vasta área no norte do Chile. São mais de 100 mil quilômetros quadrados entre as quatro primeiras das 16 regiões chilenas — Arica, Tarapacá, Antofagasta e Atacama.

Enquanto algumas cidades não registram uma gota d’água sequer há décadas, outras têm índices pluviométricos mais expressivos. É o caso de San Pedro de Atacama, principal base turística para os atrativos naturais do deserto.

O que é o Inverno Altiplânico?

As chuvas são escassas porque as correntes marinhas do Oceano Pacífico são extremamente frias, impossibilitando a evaporação das águas que formam nuvens de precipitação. Além disso, na maior parte do ano, a Cordilheira dos Andes funciona como uma barreira para as massas de ar úmido que vêm da Amazônia.

A exceção ocorre justamente durante o Inverno Altiplânico, quando ventos no altiplano boliviano elevam essas massas e formam nuvens carregadas de água. Estas se concentram na região da cordilheira, entre as fronteiras do Chile e da Bolívia — San Pedro está a apenas 50km desse ponto.

Durante essa época, é comum ter chuvas de verão, geralmente no final da tarde, acompanhadas de intensas tormentas elétricas e ventos que podem alcançar velocidades de 100km/h.

Em Agosto de 2022 eu lancei meu primeiro guia de viagens, onde compartilhei toda a minha experiência de 3 anos vivendo em San Pedro de Atacama trabalhando no turismo.

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Quando acontece o Inverno Altiplânico – ou: quando vem a chuva no Atacama?

Paradoxalmente, o fenômeno chamado Inverno Altiplânico ou Inverno Boliviano acontece durante os meses de verão, de dezembro a março. A tendência é ter um pouco de chuva entre a segunda quinzena de janeiro e meados de fevereiro – porém isso é totalmente incerto e não temos como garantir a data em que vai chover. Se você não quiser arriscar de modo nenhum pegar chuva no deserto, evite esses meses. Normalmente em março a situação já está normalizada.

Como a chuva no Atacama afeta os passeios?

A maior dificuldade é que a região tem poucos recursos para enfrentar tempestades e muitos problemas locais se agravam. Os rios próximos a San Pedro podem transbordar, estradas são fechadas, a energia pode ser interrompida, pode faltar água potável… Sem falar no barro por todos os lados. Afinal, a cidade é construída quase inteiramente de adobe.

A quantidade de chuva no Atacama varia bastante, e é difícil prever o quanto vai impactar a região. Às vezes é forte o suficiente para fechar todos os passeios de uma vez (como aconteceu agora no início de 2019), às vezes afeta apenas uma área pontual ou em altitudes mais elevadas, onde a água vem sob a forma de neve.

Alguns passeios podem fechar porque têm sua estrutura comprometida, como costuma ocorrer com as Termas de Puritama, mas a maioria é cancelada por causa das estradas interditadas. É comum os carabineros cortarem o acesso às rutas 23 e 27, respectivamente, o Paso Sico e o Paso Jama, que são as fronteiras com a Argentina.

Nessas épocas, os administradores dos sítios turísticos — as comunidades indígenas locais e a CONAF, a órgão responsável pelo monitoramento da Reserva Nacional Los Flamencos — avaliam diariamente as condições de acesso e informam se o local estará habilitado ou não. A Sernatur, órgão responsável pelo turismo chileno, reúne essas informações e as repassa para as agências e os operadores turísticos em San Pedro, que organizam as saídas dos passeios viáveis.

Tá chovendo no Atacama, e agora? O que eu faço?

Não tem como controlar a Mãe Natureza. Se todos os passeios foram suspendidos, o jeito é torcer para a chuva diminuir e algum setor ser habilitado, o que é raro não acontecer em um ou dois dias. Enquanto isso, vale descobrir a gastronomia atacamenha nos restaurantes de San Pedro e aproveitar os atrativos da cidade, como a igreja, a feira de artesanatos e o intrigante Museu do Meteorito.

Se as chuvas forem intensas e contínuas, você pode transformar a sua viagem para o Atacama em uma viagem para o Salar de Uyuni. Por causa das chuvas, o deserto de sal é transformado num enorme espelho d’água, criando paisagens absurdas. Não por acaso, essa é considerada uma das melhores épocas para visitar o Salar de Uyuni.

É raro que o acesso à Bolívia seja interrompido; mesmo quando a fronteira mais próxima de San Pedro está fechada, ainda é possível coordenar a ida ao salar por Ollagüe, um passo fronteiriço mais ao norte. No entanto, é preciso ter em mente que o itinerário pode ser adaptado e que alguns atrativos não são acessíveis.

Ainda ficou com alguma dúvida sobre o Inverno Altiplânico? Nos escreva nos comentários!

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