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Hoje faz quinze meses que eu não tenho casa

Hoje faz quinze meses que eu não tenho casa

Não sei como você vai encarar o que vou escrever aqui agora, mas está fazendo quinze meses que eu não tenho minha casa. Nããão, não quero que você fique com pena de mim. É com um certo orgulho que eu falo isso.

Na verdade tudo aconteceu muito naturalmente e não foi planejada essa parada de não ter mais minha própria cama ou meu armário ou, sei lá, aquele cantinho do lar pra onde a gente adora voltar. Simplesmente aconteceu. E esse post é quase um desabafo para as centenas de vezes que tenho que responder à pergunta “Aonde você mora?”.

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Ah, cansei. Às vezes me dá preguiça de explicar, porque sei que se eu só responder “Não tenho exatamente uma casa”, vão no mínimo me olhar torto. Aí às vezes eu falo que moro em Niterói mesmo. Ou respondo apenas “no Rio”, que dá aquela generalizada e ponto, e corto o assunto. Mas é sempre estranho, porque eu sei que não estou falando a verdade. E, bem, por que esconder a verdade?

É isso. Eu não tenho a minha casa há quinze meses. Há cerca de 450 dias eu não sei o que é uma reunião de condomínio, uma conta de internet, não preciso preparar a lista de compras da faxineira. Há umas 64 semanas eu “invento” um endereço no check-in do hotel ou quando preciso preencher um cadastro.

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Aliás, puta sacanagem essa parada de comprovante de residência, hein?

Tudo aconteceu muito naturalmente. Na época em que virei uma “sem teto”, eu estava decidindo fazer um programa de intercâmbio do meu mestrado na Croácia. Como iria ficar seis meses fora, avisei às amigas com quem eu dividia apartamento que sairia de lá em dois meses e iria procurar outra pessoa pra ficar no meu lugar dali pra frente, e que na volta eu veria o que fazer – quem sabe eu não voltava a morar lá mesmo?

Mas na semana seguinte, minha amiga só chegou e falou “Já que você está saindo, decidi me mudar pra mais perto do trabalho também. Entregamos as chaves do apt no fim desse mês”.

Bom, óbvio que fui pega de surpresa, pois contava em ficar lá até me mudar pra Europa. Em menos de duas semanas empacotamos a casa toda, pintamos todas as paredes e me mudei, provisoriamente, pra casa da minha madrinha, no bairro ao lado. Assim, rápido e indolor.

Fiquei lá cerca de um mês até ir para a Europa. No primeiro mês da viagem fiz um mochilão e também caí de couchsurfing na casa de um casal que eu conheci em Zagreb e que, nesse meio tempo, me emprestou o apartamento deles para eu morar na Croácia enquanto estivesse fazendo meu curso. Tipo assim… Surreal né?!

Morei lá por pouco mais de três meses e depois emendei em mais um mochilão de um mês pela Europa antes de voltar pro Brasil.

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Assim que voltei, fiquei duas semanas na casa dos meus pais matando a saudade e já fui pra Índia. Quando voltei da Índia, estava na fase de terminar minha dissertação do mestrado. E não fazia ideia de onde iria trabalhar quando concluísse o curso. Rio? São Paulo? Fora do país? “Bom, nesse caso, não vou alugar apartamento de novo”. Só de pensar em fechar um contrato de dois anos com uma imobiliária e fazer toda a mudança novamente… Chega a dar calafrios.

Resultado: Fui de novo para casa da minha madrinha. Entre pequenas viagens pelo Brasil, visitas aos meus pais no interior e um frila rápido na assessoria da Coca-Cola, fiquei lá quase três meses.
Foi quando surgiu a oportunidade de trabalhar nas Operações de Imprensa das Olimpíadas Rio2016. Mas sabe onde? Na Barra da Tijuca, no ooooutro lado do Rio de Janeiro. E pra cá me mudei. Fiquei um mês na casa de uma grande amiga, outro mês numa pousada que o trabalho bancou pra mim, e agora na minha amiga novamente.

Quando terminar esse job, passo uma semana vendo a família no interior do Rio e depois me mando pra um mês viajando pela África.

Desapego? Sim. Bastante!!! Nunca imaginei que me sentiria tão livre. O dinheiro que eu gastaria em anos de aluguel, invisto viajando – já parou pra fazer essa conta?

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Mas não é apenas uma questão de grana. Vai MUITO além disso. É um estilo de vida, uma necessidade de estar em movimento, de conhecer o novo, uma vontade de não me prender ao que, literalmente, pode ser uma prisão. Essa sensação de liberdade nunca fez tanto sentido para mim.

Claro que a minha realidade me permite viver assim. Tenho minha família que me recebe de braços abertos, a casa dos meus pais pra onde sempre volto pra matar a saudade, amigos que adoram quando sou visita, hotéis que me recebem a trabalho pelo blog, destinos que me convidam para viagens, mil viagens que planejo por conta própria e me jogo.

Estou sempre com uma mochila nas costas com roupas que deem pra ao menos duas semanas (e às vezes acabam tendo que durar um mês). Por pura necessidade, estou virando expert em viajar carregando pouca tralha. Meus amigos já brincam que “a mudança da Carla é menor que a minha bolsa da academia”.

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E assim eu vou sendo nômade aqui e ali, e me amarrando em viver assim de uma maneira que eu jamais poderia esperar. A pergunta que todo mundo me faz é “Mas você não sente falta? De ter seu travesseiro, seus sapatos, seu sofá? Meu Deus, sei lá, de ter pra onde voltar?”.

A resposta é “ainda não”. Ainda não sinto falta de ter novamente um armário grande, uma coleção de sapatos e bolsas à disposição a qualquer momento, todos os meus cremes no banheiro, um sofá que já tem a forma do meu corpo, minhas comidinhas na despensa, uma geladeira pra colocar todos os meus imãs de viagem. Ainda não.

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Enquanto isso, eu doo as roupas que não fazem falta na minha mochila do dia a dia, me desfaço de maquiagens e cremes desnecessários que só tumultuavam a minha pia ou até passaram da validade, enfeito a geladeira dos meus pais com vários destinos novos, caio em sofás alheios.

E… Sobre não sentir falta de ter pra onde voltar? Bom, talvez eu devesse mudar o título desse post… Porque a realidade é que, há exatos quinze meses, eu tenho as casas mais especiais que eu poderia querer pelo mundo. E esse estilo de vida, incompreendido por muitos, é o que mais me completa hoje e que eu não penso em largar tão cedo… ❤

Leia mais sobre minhas experiências por aí:

Sobre esse vício em pegar a estrada… Croácia, meu próximo lar

Mas vem cá… Por que um intercâmbio na Croácia?

Contos de viagem – quando morar fora aperta…

Eurotrip: meu roteiro Áustria x Alemanha x Polônia x Países Bálticos x Finlândia x Rússia

Verão europeu: meu roteiro Grécia x Albânia x Montenegro x Croácia

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20 respostas

  1. Quando eu me formar na faculdade, quero me jogar nas viagens como você. Posso dizer que você virou minha inspiração haha curta bastante a África! Bjs!!

  2. Olá Carla

    Puxa…devorando seu blog!!! Amando!

    Por favor uma dica. Vou estar na Itália com linha filha de 4 anos nos meses de dezembro e janeiro e queria muito conhecer um pouquinho da croacia.

    Vc acha MUITA viagem eu me jogar numa época tão fria e com uma criança pequena ( ela eh acostumada a viajar, mas. )

    Teria algumas dicas de roteiro para uns 3 – 4 dias?

    Obrigada e muitas viagens para vc

    1. Ei, Cristiane!
      Poxa, obrigadaaa!!! Que bom que está curtindo o blog.
      Olha, eu indicaria que vocês conhecessem a região da Istria, que faz fronteira com a Itália e não se resume a apenas praias. Dê uma olhadinha na internet e veja o que acha. Recomendo visitar Pula, que tem um anfiteatro romano lindo, e também a cidade Hum – a menor do mundo!
      Beijos e aproveitem.

    1. Oi, Samuel. Posso falar em custo de vida. O meu na Croácia era mais baixo que em Niterói. Enquanto a Croácia não adota de vez o Euro, o país ainda sai mais em conta financeiramente.
      A Croácia é um país lindo, com pessoas muito amigas e receptivas. É seguro, tem muito o que conhecer, praias lindas. Indico a todo mundo 😉

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